terça-feira, 10 de maio de 2011

OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELA INCLUSÃO ESCOLAR E A SUPERAÇÃO DO FRACASSO NA APRENDIZAGEM

A inclusão, escolar e social, exige mudança de mentalidade, mudança nos modos de vida, muitas reflexões e, como princípio fundamental, valorizar a diversidade humana. Pretende-se aqui apenas despertar nos leitores o interesse pela discussão sobre como a inclusão se efetiva, que mudanças se fazem necessárias para a aceitação dos diferentes e quais as possibilidades de aprendizagem nesse novo momento da educação. Para tanto, considera-se necessário a construção de imaginários e ações de aceitação das diferenças, apostando na cooperação, ajuda mútua, interdependência e convivência.
 Sabe-se que o processo inclusivo é frágil e falta o imaginário da aceitação do diferente como diferente; existem fragilidades no processo de formação profissional; atividades pedagógicas diferenciadas resultam de iniciativas particulares de professores; existe ainda resistência e uma espécie de falta de compromisso coletivo da comunidade escolar com o processo inclusivo. Diante disso, pode-se dizer que: a inclusão escolar continua um tema aberto e de muitas entradas para reflexão; a efetivação da educação inclusiva sendo ainda muito incipiente e uma de suas maiores dificuldades está no não reconhecimento do outro como diferente, o que denota a não aceitação dessa diferença, faltando a colaboração e consenso na redefinição de procedimentos didáticos pedagógicos capazes de qualificar a aprendizagem para cada aluno. Sendo assim, percebe-se que a inclusão envolve convivência regada pelo diálogo, pela humildade, pelo reconhecimento das próprias fragilidades, além da superação de paradigmas tão impregnados em nossa formação cultural, religiosa, social, enfim fazendo parte de todo nosso desenvolvimento  histórico.
Persistem inúmeros e graves problemas na educação brasileira, dentre os quais o fracasso escolar se apresenta como de difícil solução. Se, agora crianças, adolescentes e jovens estão na escola, as preocupações voltam-se ao o que e como se faz na escola. Como e com que qualidade se oferecem ambientes propícios para que a aprendizagem seja possível, seja desejada e seja, efetivamente, alcançável. Uma meta que requer muita inovação e esforço para atualização e reestruturação das condições atuais de grande parte das escolas de educação básica e, mais especificamente, do entendimento e significado da educação como ação formativa e inclusiva.
Sendo assim, pode-se dizer que: Educação inclusiva é uma ação, desejando compreender e aceitar alguém, o outro, na sua singularidade. Significa abranger e abrir os braços para acolher todos e a cada um dos alunos. A natureza da inclusão é diferente de integrar, que tem a ver com adaptar o aluno às exigências da escola; implica mudança de perspectiva educacional, uma vez que se dirige a todos os alunos.
O fato é que a inclusão deve possibilitar maior equidade e abrir horizontes para o desenvolvimento de sociedades inclusivas. Fazer inclusão significa desejar e realizar mudanças profundas em termos de concepções e práticas educacionais. Uma mudança capaz de criar expectativas diferentes, fundamentadas no princípio do envolvimento da coletividade.
Mas, quem é o aluno diferente?
Quais são as suas possibilidades, seus desejos, suas dificuldades e limitações? Para responder a essas e outras questões, precisamos perguntar ao aluno. Para perguntar a ele, é necessário antes acolhê-lo, admitindo que todo aluno traz consigo um conhecimento de sua realidade, que não pode ser desconsiderado. É isso que propõe Paulo Freire em “Pedagogia do Oprimido” (1987), ao afirmar que toda ação educativa somente será válida se precedida de reflexões sobre o ser humano, que se deseja educar, e seu ambiente de inserção. Um ambiente de inserção que precisa favorecer o acesso à informação e, na atualidade, também desenvolver as necessárias habilidades para lidar com a informação.
Pretende-se aqui deixar ao leitor a seguinte pergunta: ‘A educação inclusiva realiza o desafio de melhorar qualitativamente a aprendizagem?’
O fato é que a inclusão exige uma mudança de mentalidade e de valores nos modos de vida e é algo mais profundo do que simples recomendações técnicas, como se fossem receitas. Requer complexas reflexões de toda a comunidade escolar e humana para admitir que o princípio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade, presente numa comunidade humana. Quando a educação inclusiva é aceita, abandona-se a ideia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo. Ela também requer a superação da tradicional concepção antropológica de seres humanos ideais, sempre dispostos a uma entrega generosa em prol do bem comum.
É difícil para o ser humano estar em contato, estar presente e confirmar o outro, suspendendo seus preconceitos, permanecendo aberto para a alteridade, sem que haja qualquer diferença visível ou manifestação de necessidades especiais.É preciso apostar em práticas capazes de melhorar as relações entre professores e alunos, já que educar é um “processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, transforma-se espontaneamente, de maneira que seu modo de vida se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência”. (MATURANA, 1999, p. 29).
Portanto, Educação inclusiva é uma ação que possibilita maior equidade abrindo horizontes para desenvolver sociedades inclusivas, cria expectativas diferentes e tem como princípio o envolvimento da coletividade. Todo movimento de vida na escola e fora dela é diferente, cada ser com seu ritmo, com suas percepções do outro e do mundo. É um movimento de “desordem”, de desestabilidade e de desvios. A desordem permite a indeterminação, os desvios e abre espaço para a transformação. Segundo Morin (1989), é preciso “proteger o desvio” apesar das forças institucionais para reproduzir as “padronizações”. Importa tolerar e favorecer os desvios para criar espaços de discussão, de observação das diferenças, para perceber que cada ser é um, é único, e não uma peça padrão da sociedade.
Reconhecer a diversidade é difícil quando não percebemos “a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno”. (MORIN 2003). Difícil, porque a sociedade percebe a diferença como “anormalidade, resultando na marginalização daqueles indivíduos que, por suas peculiaridades, eram impedidos de usufruírem os mesmos benefícios que os demais” (DUEK, 2007, s/p).  A diferenciação não pode abrir caminho para condutas de exclusão, por pressupor um padrão, uma referência fazendo “com que as palavras ‘igual’ e ‘diferente’, surjam carregadas de sentido. A ênfase maior recai sobre a necessidade de determinar o rol dos ‘escolarizáveis’ e dos ‘não escolarizáveis’, isto é, dos que conseguem e dos que não conseguem aprender”. (DUEK, 2007, s/p).
Essa realidade, enraizada na escola, permite, aos “diferentes”, o direito de acesso, mas nem sempre se estende à permanência e à aprendizagem. Nos espaços escolares, sem a dimensão da alteridade, projeta-se a continuidade seletiva e excludente. Escolas, nas quais se reconhece a alteridade, entendem e desejam renovação e atualização. São ambientes acolhedores e compreensivos nos quais se vive o espírito de solidariedade. Suas práticas educacionais e aprendentes são efetivadas como oportunidades de convivência e de superação da apatia e da insensibilidade que costuma ver as dificuldades e os problemas de ordem social, econômica, cultural, ou mesmo biológica, como problemas dos outros.Sendo assim, acredita-se que a inclusão escolar só será viável se o professor e toda a comunidade escolar mudarem seu jeito de lidar com a diferença, via aceitação de formas relacionais de afetividade, de escuta e de compreensão, suspendendo juízos de valores como pena, repulsa e descrença.
Uma mudança como desejo interior, porque algo interior nos diz que vale a pena mudar.Portanto, considera-se que o êxito de todos os alunos no processo de aprendizagem não é um fato consolidado. Existem professores que ainda dizem não saber onde está a falha, “a gente percebe que eles são deixados de lado, mas não se sabe por quem: se é pelo professor, se é pela escola como um todo”. Falta, entre os professores um relacionamento mais colaborativo. Percebe-se que ainda há falta de maior colaboração e consenso na redefinição de procedimentos didático-pedagógicos capazes de estender a qualidade da aprendizagem a todos e eliminar os pressupostos e crenças da lógica classificatória e excludente.
Diante disso, acredita-se que o desafio da inclusão escolar está associado ao desafio de superar, gradativamente, a brutal exclusão social, ainda uma das marcas fortes de nossa contemporaneidade. É um grande desafio, difícil, complexo, mas não impossível. Desta forma, a educação inclusiva possibilita uma mudança de mentalidade, alarga horizontes de esperança inclusiva para articular a sociabilidade com o potencial dos diferentes.
Além do até aqui exposto, acredita-se ainda na necessidade de criar uma espécie de ‘sensibilidade’ para a inclusão, o que é uma tarefa exigente, mas possível, como  é o próprio ato do aprender, do conhecer e do viver. Assim, a escola inclusiva, para fazer educação inclusiva, precisa de educadores que oportunizem a todos os alunos e a cada um dos alunos o desafio do pensar. São necessários educadores que despertem em cada aluno o prazer do pensar, que despertem o prazer da aprendizagem e que objetivem a vivência convidativa e insubstituível do diálogo. Educadores que no conversar e no diálogo reconhecem que cada aluno é um sujeito de ideias e um sujeito de palavras (SEVERINO, 2002). Essa escola precisa de educadores que reconheçam que cada aluno tem o que dizer, sendo mesmo capaz de dizê-lo e, melhor ainda, que será ouvido, sobretudo atendido em suas necessidades educativas especiais (NEE).





Referências
DUEK, V. P. Um olhar sobre a deficiência/diferença na escola inclusiva. Revista Educação Especial. Universidade Federal de Santa Maria. Nº 29, 2007. Disponível em: http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2007/01/a3.htm. Acesso em: 10 jul 2009.161 A Inclusão ... - Roque Strieder e Rose L. G. Zimmermann
FELTRIN, A. E. Inclusão social na escola: quando a pedagogia se encontra com a diferença. São Paulo: Paulinas, 2004.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, M. O sentido dramático da aprendizagem. in.: GROSSI, E. P; BORDIN, J. (org.). Paixão de aprender. Petrópolis: Vozes, 1996.
MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
_____. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
_____; VARELA, Francisco J. Árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 1995.
MANTOAN, M. T. E. A hora da virada. Inclusão – Revista da educação especial. Brasília, 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=64&ltemid=193. Acesso em 12/12/08.
MIRANDA, J. V. A. Tolerar ou compreender o outro? Uma leitura hermenêutica da alteridade. Revista Espaço Pedagógico, v. 12, n. 2, Passo Fundo, jul./dez., 2005. p. 59-70.
MORAES, M. C. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis: Vozes, 2003.
MORIN, E. O método II: a vida da vida. 2º Ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1989.
_____. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3.ed. SP: UNESCO, 2001.162 A Inclusão ... - Roque Strieder e Rose L. G. Zimmermann
_____. O método 5: a humanidade da humanidade : a identidade humana. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2003.
SAVATER, F. O valor de educar. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
SEVERINO, A. J. Educação e transdisciplinaridade. RJ.: Lucerna, 2002.
STAINBACK, S. & STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

                                                                  
                          Profª. Ms. Luciene Martins Tanaka

4 comentários:

  1. ola, sou professora e gostaria de saber quantos alunos de inclusão devem ser colocados dentro da sala de aula? Grata Élide

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  2. Ola, sou professora e gostaria de sabe quantos alunos de inclusão devem ser colocados dentro de sala de aula. Grata Élide

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  3. Ola, sou professora e gostaria de sabe quantos alunos de inclusão devem ser colocados dentro de sala de aula. Grata Élide

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  4. ola, sou professora e gostaria de saber quantos alunos de inclusão devem ser colocados dentro da sala de aula? Grata Élide

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