quinta-feira, 5 de maio de 2011

UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO SOBRE OS CAMINHOS PEDAGÓGICOS DA INCLUSÃO ESCOLAR

Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As grandes inovações estão, muitas vezes na concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e aceito sem outras resistências, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos à educação - e assim diz a Constituição !
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem aptas para responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias da educação especial e suas modalidades de exclusão.  Desta forma, o princípio democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico.
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar.  
OS DESAFIOS DO PROCESSO DE INCLUSÃO:
 Toda criança precisa da escola para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimentos à parte.    Para isso, a  trajetória escolar não pode ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas organizacionais de ensino que tornam esse percurso muito difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a correnteza do rio e a força dos que querem se manter no seu curso principal, tendo como um desses sistemas, o que muito apropriadamente foi  denominado “de cascata”, acabou por prever a exclusão de algumas crianças, com déficits temporários ou permanentes e em função dos quais apresentam dificuldades para aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do ensino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial, que atende aos alunos que caíram na cascata, por não conseguirem corresponder às exigências e expectativas da escola regular.  Sendo assim, para  evitar a queda em cascata, que na maioria das vezes, acaba sendo sem volta, é preciso remar contra a correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão : o ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino especial, desvinculada e/ou justaposto ao ensino regular.
Além disso, torna-se necessário priorizar a qualidade do ensino regular , uma vez que é um desafio que precisa ser assumido por todos os educadores, além de todos os envolvidos (equipe escolar , comunidade e famílias). Portanto, percebe-se que trata-se de  um compromisso inadiável das escolas, pois a educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
Se hoje já pode-se contar com uma Lei Educacional que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não estão associados a mudanças de base nas escolas e que continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas especiais, além dos serviços de itinerância).  Contudo, as escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares  justificam-se , na maioria das vezes,  pelo despreparo dos seus professores para esse fim. Além disso, ainda existem as que não acreditam nos benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais.
O fato é que em ambas  circunstâncias, o que fica evidenciado é a necessidade de redefinir e de se colocar em ação novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio. Surgem algumas dúvidas frente à essa situação, ou seja, alguns questionamentos tornam-se necessários: Muda-se  a escola ou mudam os alunos, para que venham a ser ajustados às velhas exigências educacionais ? Deve-se pensar num ensino especializado para  todas as crianças ou no ensino especial somente  para os deficientes? Devem os professores aperfeiçoarem-se para suas funções, atendendo às peculiaridades de todos os alunos ou deve-ser buscar professores especializados para ensinar aos que não aprendem e aos que não sabem ensinar?
Diante dessa realidade vivenciada nas escolas de ensino regular ou em qualquer outra modalidade de ensino, esse texto pretende deixar o leitor com seus pensamentos voltados para tais questionamentos, bem como fazê-lo refletir sobre que tipo de ações poderiam e deveriam já estar sendo aplicadas e/ou implementadas para a efetivação do processo de Inclusão Escolar.
Ms. Luciene Martins Tanaka

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