terça-feira, 24 de setembro de 2013

Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS): o ‘OUTRO’ e sua constituição no Universo do silêncio.

Sabe-se que o número de pessoas portadoras de algum tipo de necessidade especial no Brasil não é pequeno, porém sua relevância demográfica não se reflete nas pesquisas acadêmicas (SEEMANN, 2003). Nos deslocamentos realizados no cotidiano, é comum pessoas surdas serem encontradas, tanto quanto as cegas. Entretanto, quando isso ocorre, geralmente não se sabe como agir, pois a “normalidade”, ou portar visualidade e oralidade, tem primazia na constituição subjetiva.
Contudo, apesar de invisíveis, esses outros estão agora junto a nós: na sala de aula, no café, na rua, refletidos em nosso espelho e espelhados em decretos-lei por meio da criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/96). Diante das circunstâncias legislativas, surge uma educação especial e neste contexto, neste artigo será feito um recorte e uma breve reflexão no que se refere à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a constituição do ‘OUTRO’ silencioso, diverso.
O ‘outro’ como problema é momento de um processo. De fato, o outro se fabrica. Esculpimos o outro traço por traço, num processo social e quotidiano: sobre a base da loucura, construímos dia a dia o louco; sobre a diferença de cor, fabricamos o negro; sobre a diferença de sexos, fazemos da mulher a costela complementar do homem; sobre a diferença de origem geográfica, convertemos o forasteiro [...] E assim, de cada um deles fazemos um estranho. (García, R., 1998, p. 24).
Os cursos de licenciatura e pedagogia de todo o país serão obrigados até 2015 (prazo máximo), a contratar um profissional em LIBRAS para colaborar na formação dos futuros profissionais da docência da educação básica. E esse grupo deverá cumprir alguns requisitos, tais como ser habilitado em PROLIBRAS (MEC), Pós-Graduação em Educação Especial ou áreas relacionadas à surdez ou trazer no currículo uma carga horária mínima de 120 horas em LIBRAS. Desta forma, essa carga horária mínima é exigida pela Secretaria de Educação de São Paulo para a contratação de professores interlocutores, aqueles cuja função é acompanhar os alunos com deficiência auditiva em sala de aula.
No entanto, a escassez de professores formados em LIBRAS e a ausência de materiais didáticos adequados para alunos surdos tornam o problema da inclusão dessas pessoas muito mais complexo, mesmo havendo leis que obriguem os professores a dominar LIBRAS (L1) e incorporar essa língua na sala de aula quando houver alunos surdos ou com deficiência auditiva que comprometa a compreensão da linguagem oral e/ou escrita em Língua Portuguesa. (L2) Por esses inconvenientes todos, sugere-se as estratégias e materiais didáticos, tais como: Elaboração e avaliação de materiais didáticos para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem de temas geradores (por exemplo, urbanização, poluição, nanotecnologia, entre outros) que possibilitem a alfabetização científica ou a inserção na cultura científica de cidadãos surdos. Formação de professores em LIBRAS capazes de atuar em suas respectivas áreas formativas;
Esse estudo visa o desenvolvimento de material didático proposto por meio da modalidade educacional bilíngue. O objetivo é usar essa proposta de ensino nas escolas a fim de permitir o acesso do aluno surdo à aquisição de duas línguas dentro desse contexto escolar. As pesquisas têm sinalizado que tal proposta é a mais adequada para o ensino de alunos surdos, considerando que a primeira língua é a LIBRAS e a segunda língua é o PORTUGUÊS. A dificuldade de compilar os sinais em LIBRAS para os conceitos técnicos e científicos torna-se um entrave para a alfabetização científica dos alunos surdos, visto que não encontramos nesses sinais uma uniformidade nacional. Mesmo a LIBRAS constituir uma língua falada oficialmente em todo país, os regionalismos dificultam o acesso ao sinal adequado. Diante disso, pelo senso comum, os educadores acreditam que a LIBRAS não possa ser usada para transmitir os avanços tecnológicos e científicos que cabem à escola trabalhar e discutir. Então, a educação do cidadão surdo deve ser baseada respeitando a diferença cultural, visto que sua cultura está baseada na experiência visual, onde criam suas hipóteses e também a aquisição da alfabetização científica deva ocorrer através de um raciocínio abstrato e qualitativo. Portanto, considera-se nesse artigo uma proposta de promover atividades de orientação voltadas diretamente ao professor em sala de aula, ajudando-o na mediação entre o aluno surdo e procurar desenvolver estímulos nesse aluno convidando-o a construir sua própria aprendizagem e garantir através de aplicação de modalidades e recursos didáticos diversificados, a alfabetização de milhares de alunos com surdez excluídos do processo educacional. Sabe-se que desbravar esse universo silencioso e transformar em realidade essa perspectiva é estimulante e desafiador, pois se percebe que no fundo, os excluídos são os demais, ou seja, os ouvintes. 
Ms. LUCIENE MARTINS TANAKA

Referências bibliográficas GARCÍA, Ramón. A propósito da loucura: o outro. In: LARROSA, Jorge e LARA, Nuria P. (Org.). Imagens do outro. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 24-46. GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. SEEMANN, Jörn. Geografia e deficiência visual: uma agenda esquecida? Ciência Geográfica, Bauru, n. 2. p. 160-164, mai., 2003.

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