INCLUSÃO: AMEAÇA ou DESAFIO pela DESCOBERTA
INTRODUÇÃO
A inclusão escolar é um tema que vem sendo muito tratado nos dias atuais e nos faz refletir e analisar sobre a situação da educação brasileira em relação ao assunto, afinal será que os atores escolares estão preparados para conviver com as diferenças? Sabemos da grande diversidade da formação dos professores e me questiono quanto à qualidade da mesma, afinal são inúmeros os cursos que surgem aqui no Brasil, mas será que quantidade está ligada à qualidade?
Atualmente muito se tem se falado sobre competências e habilidades, sejam elas a serem construídas no aluno ou ainda, que devam possuir e/ou adquirir o professor, para desenvolver-se continuamente e ter sucesso na sua profissão. Um grande desafio da docência atual é o trabalho com alunos de inclusão, seja qual tipo de inclusão for, sabemos das imensas dificuldades do professor em se trabalhar com alunos de inclusão, seja devido à falta de estrutura ou principalmente a uma formação inadequada tanto inicial como continuada. CARVALHO (2004) afirma que é importante romper as barreiras como: uma má formação docente e a sua falta de preparo, a falta de recursos adaptados para se trabalhar com portadores de necessidades especiais. Entretanto, apesar das imensas dificuldades citadas, será que é fácil trabalhar com a inclusão? Por que não se prepara o professor para a realidade da sala de aula? Será que o ensino por competências auxilia no trabalho com alunos de inclusão?
Para VYGOTSKY (1984) desenvolve uma teoria de que a formação da mente é importante para os resultados de qualquer verificação, seja pela abordagem teórica ou pela experimentação devem levar em conta fatores qualitativos e quantitativos. Mas, será que é fácil trabalhar com seres humanos, sujeitos que como diz MORIN (2000) são tão complexos!? Que atitudes deve tomar o professor? Afinal, vemos a cada dia mais cobranças e pouco apoio técnico, porém, será que podemos fazer algo? Qual deve ser a postura do professor? Que competências e habilidades ele deve dispor para trabalhar com esses alunos?
Já para ROMERO TORRES (2005), competência é o desenvolvimento de uma capacidade que alguém utilizará para resolver um determinado problema e é construída pela troca de conhecimentos entre as pessoas, com base em fundamentos legais e que o ensino por competências deve levar em conta o conhecimento prévio do aluno, que, por sua vez, deve ser verificado através de uma sondagem, para saber quais deverão ser mais ou menos trabalhadas, sendo um referencial para o trabalho do professor.
1. 1. COMPETÊNCIAS E SABERES DO DOCENTE
As condições da docência exigem muito do professorado em termos de responsabilidade e trabalho diário e, em troca, oferecem pouco tempo para a elaboração, para a discussão construtiva, para a reflexão ou em relação a compensações reais e tempo para reposição. Contudo, segundo FULLAN, infelizmente, a formação do professorado não os prepara para as realidades da educação e nem podemos esperar que o faça devido às constantes modificações nos sistemas de ensino, além disso, eles dificilmente recebem ajuda dos seus superiores.
ensinar por competências é algo complexo e envolve capacidade, habilidade, aptidões e um bom desempenho, preocupando-se no desenvolvimento constante dos alunos, buscando gerar-lhes autonomia em relação aos estudos. Dessa forma, os alunos adquirirão capacidade de aplicar os conhecimentos e de articulá-los com os seus valores e atitudes. Entre essas competências citadas por diversos autores, MORIN (2000) nos cita sete saberes, que segundo ele são necessários para o professor do século XXI:
1º Saber – O Erro e a Ilusão – As Cegueiras do Conhecimento – A educação deve mostrar que não existe conhecimento que não esteja ameaçado pelos riscos de erros e ilusões.
Os idealismos podem contribuir para um erro que não seja construtivo, afinal, também se aprende com os erros e a melhor forma de se evitar erros é utilizando a racionalidade.
2º Saber – Os princípios do conhecimento pertinente – A fragmentação dos conteúdos em disciplinas é um mal e seria importante haver uma ligação entre elas, afinal o ser humano é um ser complexo, mas é apenas um, portanto, as matérias devem ser trabalhadas juntas, contextualizadas, facilitando assim o seu entendimento por parte dos alunos.
3º Saber – Ensinar a condição humana – Como citamos acima, é importante se integrar as disciplinas da mesma área de estudo.
4º Saber – Ensinar a condição terrena – Atualmente, as informações se propagam com grande velocidade e as pessoas estão ligadas, independentemente da sua pátria, passando a ser consideradas cidadãs do planeta Terra, aprendendo a respeitar os diferentes povos e suas respectivas culturas.
5º Saber – Enfrentar as incertezas – A educação do futuro deve voltar-se para as incertezas ligadas ao conhecimento, pois, existem os princípios da incerteza. Portanto para estar preparado para enfrentá-las é necessário fé e estratégias, ou seja, é necessário estar armado de conhecimentos.
6º Saber – Ensinar a compreensão – A educação para a compreensão está ausente no ensino e não é garantida pela comunicação, Para se compreender o que se passa na cabeça de alguém, bem como o que ela sente, é importante se colocar no lugar dela e entender as diferenças entre as diferentes culturas, não se preocupando em impor a sua cultura sobre a de outros povos, mas respeitando-as e exigindo respeito para com a sua, para que assim, vivamos em um mundo mais pacífico.
7º Saber – Ética do Gênero Humano – A educação deve mostrar e ilustrar o destino multifacetado do homem, ou seja, mostrar que embora todos tenham pensamentos e maneiras de viver diferentes, todos pertencem à raça humana, portanto, devem se respeitar mutuamente.
Desta forma, a cada dia os desafios na sala de aula são maiores e a formação docente, acaba deixando muito a desejar, sendo o professor, a maior vítima desse despreparo, que se deve a não formação por competências nas universidades. Além disso, os professores têm pouco ou nenhum conhecimento sobre a educação inclusiva, indo de encontro ao que fala DAVÍNI (1995) quando afirma que ainda há muito para se fazer, tendo em vista que é preciso haver uma grande integração entre teoria e prática por parte das universidades e centros formadores, para que o professor seja de fato preparado para a realidade da sala de aula, pois, segundo ele, deve-se desenvolver uma pedagogia centrada no estudo da prática e do exercício docente com base numa ação reflexiva, sendo um caminho para o exercício racional da prática docente pela escolha dos melhores meios para se atingir determinados fins.
Sendo assim, educar para a diversidade é ensinar os indivíduos a conviverem com as diferenças entre as pessoas e a educação inclusiva tem esse papel e bem apresenta MANTOAN (2003), a inclusão deve ser trabalhada de todos os lados, visando à preparação não só dos portadores de necessidades especiais, mas também e sobretudo, das pessoas que irão acolhê-las, sendo fornecidas condições físicas, sociais e estruturais para que ela ocorra. Desta forma, torna-se necessária uma visão de que todos precisam aprender a conviver com as diferenças, respeitando cada um do que jeito que é, seja a pessoa portadora de deficiência visual, auditiva, física ou de altamente habilidosa.
Portanto, um dos grandes papéis da escola atualmente é de se formar para a vida cidadã e para o convívio com as diferenças. Muitas pessoas acreditam que um aluno com necessidades especiais não deve freqüentar uma sala regular, mas uma sala especial, pois entendem que já são muitos os problemas pelos quais o professor passa todos os dias. Diante desse preconceito, pergunto: Será esse o papel da escola especial? Já não basta a heterogeneidade na qual o professor tem que trabalhar?
Entende-se aqui, que a inclusão é importante, porém muitos vêem a educação inclusiva como algo “legal” não se preocupando com as suas bases, isso devido ao pouco investimento na formação do professorado e na estrutura escolar. Além disso, hoje há muitas dúvidas se há realmente uma inclusão, ou se há apenas a integração desses alunos às situações da sala de aula, ou ainda, se simplesmente eles são jogados ali, sem terem suas reais necessidades educacionais atendidas. Segundo CARVALHO (2004) o aluno com necessidades especiais não deve apenas ser jogado no meio dos demais, mas é necessário que se forneça uma estrutura para que o mesmo desenvolva a sua aprendizagem com os recursos necessários para a mesma e que se invista na formação continuada dos professores.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES:
Atualmente, percebe-se que a educação não se preocupa somente com fatores relacionados às matérias, mas cabe aos professores trabalharem alguns conceitos, como a vida cidadã, a preservação do meio ambiente, o respeito às diferenças entre as pessoas (diversidade), procurando formar cidadãos críticos, que saibam ao mesmo tempo lutar pelos seus direitos, porém, respeitando os direitos dos demais, sendo essa, mais uma das tarefas da escola.
Desta forma, o professor deve ser um profissional dinâmico e que se adeque às situações do dia-a-dia, moldando o seu trabalho de acordo com as necessidades educacionais do seu aluno, buscando alternativas que tornem a aprendizagem interessante e significativa para o mesmo, revisando e reavaliando sempre o processo de ‘ensinagem-aprendizagem’.
O ensino por competências é algo complexo, mas auxilia o professor na formação dos seus alunos e na sua própria formação, pois entre as diversas competências citadas por autores como PERRENOUD, MORIN e outros, observa-se que o professor não deve sentir-se o dono de todo o saber, mas que deve utilizar até o próprio erro na construção e reconstrução do seu próprio saber, além de enfrentar as incertezas e buscar a integração dos conteúdos disciplinares. Sendo assim, como cita MORIN (2000), o ser humano, embora complexo, é um só.
Diante disso, acredita-se que o ensino por competências auxiliará o professor a enfrentar as dificuldades e as incertezas da sala de aula, afinal, a cada dia surgem novos desafios, como a educação inclusiva. Entretanto, pouco se investe na formação dos professores, cabendo a eles gerir a sua própria formação, assumindo, muitas vezes sozinho, todo o ônus para construção do seu saber enquanto ensinante e aprendente. Sendo assim, pode-se dizer que o professor do século XXI deve buscar uma reflexão constante sobre a sua prática, bem como analisar os conhecimentos prévios dos seus alunos, para que possa direcionar o seu trabalho em relação a cada um deles, respeitando as particularidades de cada um e o ensino por competências auxilia no desenvolvimento de um trabalho de sucesso, onde o saber se torna dialógico e o professor deixa de ser o detentor de todo saber, mas alguém que precisa enfrentar as incertezas e não ter medo de errar, para vencer os desafios, buscando diagnosticar e direcionar a aprendizagem do mesmo, trabalhando na elaboração de estratégias na busca de superar a cada um deles.
BIBLIOGRAFIA
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- VYGOTSKY, L.S. (1984), A formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes, 1984.
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