sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Importância da Neurociência para a Aprendizagem e na Educação Formal

INTRODUÇÃO

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º determina que:

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (MEC/SEESP, 2001). A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, em seu documento elaborado pelo grupo de trabalho nomeado pela portaria nº 998/2007 entregue ao ministro da Educação em 07 de janeiro de 2008, tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir acesso ao ensino regular com participação; aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Em suas diretrizes aponta a educação especial como uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades realizando o atendimento educacional especializado, disponibilizando os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular. O atendimento educacional especializado complementa e/ou suplementa a formação dos alunos e está organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino e deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, por professores especializados, de preferência na própria escola ou nos centros de atendimento especializados, antigas escolas de educação especial.Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à formação dos professores, objetivando favorecer a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os alunos, ou seja, a escola hoje é inclusiva. Diante deste cenário educacional, nós educadores, temos em mãos grandes desafios: Como fazer esta inclusão? Será que estamos preparados? Como receber em nossas salas essa diversidade tão heterogênea de alunos? Será que a formação profissional dos educadores permite esse desafio?Novos tempos exigem o uso de conceitos e conhecimentos renovados. Nos últimos anos os estudos do campo das neurociências e de suas subáreas têm contribuído muito para melhor entendermos essa diversidade cerebral. O professor precisa compreender que existe uma biologia, uma anatomia e uma fisiologia neste cérebro que aprende. (RELVAS, 2009). Torna-se necessário, portanto, que o professor entenda o funcionamento do substrato neurobiológico para que possa ressignificar sua prática pedagógica. O objetivo maior deste artigo não consiste em detalhar essas bases neurobiológicas da aprendizagem, mas fazer uma reflexão com os profissionais ligados à educação e à aprendizagem em geral, sobre a importância de se conhecer essas bases como interfaces da aprendizagem, afinal, o cérebro, é, por excelência, o órgão onde se forma a cognição, o órgão mais organizado do nosso organismo. (MORIN,1996). É fundamental que educadores conheçam as estruturas cerebrais como “interfaces” da aprendizagem para a ininterrupção do desenvolvimento também biológico. E, para isto, os estudos da neurobiologia vêm contribuindo para as práxis em sala de aula, na compreensão das dimensões cognitivas, motoras, afetivas e sociais, no redimensionamento do sujeito aprendente e nas suas formas de interferir nos ambientes pelos quais perpassa. (RELVAS,2009). Sabemos que o educador utiliza rotineiramente estratégias pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem de sua disciplina. Todavia, embora atue nas transformações neurobiológicas que produzem aprendizagem e fixação do conhecimento na estrutura cognitiva da mente, em geral desconhece como o cérebro e o sistema nervoso como um todo funciona, com relevância na esfera educacional. (BARTOSZECK,2009). Por outro lado, os cursos de Pedagogia no Brasil não incluem no seu rol de disciplinas, Biologia Educacional ou Neurobiologia da Aprendizagem, com raras exceções (SCALDAFERRI; GUERRA,2002). Há preocupação no sentido de oferecer opções de curso de extensão sobre o tema aos profissionais da educação já no exercício de suas atividades. (GUERRA et al.,2004). Diante do exposto, Scaldaferri e Guerra, (2002) relatam que o que se observa no cenário educacional atual de atenção às diversidades, de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em classes regulares, é que os professores, sobretudo aqueles da rede pública, não obstante as condições de trabalho desfavoráveis, muitas vezes conseguem perceber que o aluno apresenta algum tipo de problema de aprendizagem , porém, se vêem perdidos, do ponto de vista metodológico, por não terem tido formação específica de cunho neurocientífico para lidar com esses alunos.
 
O estudo da aprendizagem une a educação com a neurociência

O aprender e o lembrar do estudante ocorre no seu cérebro. Conhecer como o cérebro funciona não é a mesma coisa do que saber qual é a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender. A aprendizagem e a educação estão intimamente ligadas ao desenvolvimento do cérebro, o qual é moldável aos estímulos do ambiente. Os estímulos do ambiente levam os neurônios a formar novas sinapses. Assim, a aprendizagem é o processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, ativando sinapses, tornado-as mais “intensas”. Como conseqüência, estas se constituem em circuitos que processam as informações, com capacidade de armazenamento molecular. Assim, a neurociência investiga o processo de como o cérebro aprende e lembra, desde o nível molecular e celular até as áreas corticais. A formação de padrões de atividade neural considera-se que correspondam a determinados “estados e representações mentais” .O ensino bem sucedido provocando alteração na taxa de conexão sináptica, afeta a função cerebral. Por certo, isto também depende da natureza do currículo, da capacidade do professor, do método de ensino, do contexto da sala de aula e da família e comunidade. Todos estes fatores interagem com as características do cérebro dos indivíduos.  A alimentação afeta o cérebro da criança em idade escolar. Se a dieta é de baixa qualidade, o aluno não responde adequadamente a excelência do ensino fornecido.

Neurociência cognitiva e Educação

A neurociência cognitiva utiliza vários métodos de investigação (por ex. tempo de reação, eletroencefalograma, lesões em estruturas neurais em animais de laboratório, neuroimageamento) a fim de estabelecer relações cérebro e cognição em áreas relevantes para a educação. Está abordagem permitirá o diagnóstico precoce de transtornos de aprendizagem. Este fato exigirá métodos de educação especial, ao mesmo tempo a identificação de estilos individuais de aprendizagem e a descoberta da melhor maneira de introduzir informação nova no contexto escolar.
Investigações focalizadas no cérebro averiguando aspectos de atenção, memória, linguagem, leitura, matemática, sono e emoção e cognição, estão trazendo valiosas contribuições para a educação. Pesquisadores em educação têm uma postura otimista de que as descobertas em neurociências contribuam para a teoria e práticas educacionais. Destarte, uma avalanche de artigos leigos em jornais diários e revistas de divulgação e mesmo periódicos científicos, têm exagerando os benefícios desta contribuição, variando daqueles totalmente especulativos àqueles incompreensíveis e esotéricos. Exemplos incluem empreendimentos para desenvolver currículo sob medida, para atender fraqueza/excelência daqueles alunos que usam preferencialmente um dos hemisférios. Este “neuromito” é uma informação infundada do que a neurociência pode oferecer à educação.  Bruer (2002) o qual argumenta que a neurociência possivelmente nunca contribuirá para a educação devido a desarticulação de conhecimentos entre as duas áreas, contrapõe-se a postura de Connell (2004). O pesquisador da Universidade Harvard argumenta que, introduzindo o “nível de análise” com agregação da neurociência computacional, elimina as fronteiras específicas. Assim, a neurociência, psicologia e ciências cognitivas somadas à educação, trazem novo enquadramento e integração destas áreas do conhecimento.

Neurociência e prática educativa

A pesquisa em neurociência por si só não introduz novas estratégias educacionais. Contudo fornece razões importantes e concretas, não especulativas, porque certas abordagens e estratégias educativas são mais eficientes que outras.
 
Princípios da neurociência com potencial de aplicação no ambiente da sala de aula:

1. Aprendizagem e memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de Aprendizagem. A Aprendizagem sendo atividade social, alunos precisam de oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranqüilo encoraja o estudante a expor seus sentimentos e idéias
.
2. O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como resultado da experiência. Aulas práticas/exercícios físicos com envolvimento ativo dos participantes fazem associações entre experiências prévias com o entendimento atual

3. o cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos de aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade adulta. Ajuste de expectativas e padrões de desempenho às características etárias específicas dos alunos, uso de unidades temáticas integradoras.

4. O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), mas maior densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender. Os Estudantes precisam sentir-se “detentores” das atividades e temas que são relevantes para suas vidas. Atividades pré-selecionadas com possibilidade de escolha das tarefas aumenta a responsabilidade do aluno no seu aprendizado.

5. Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova experiência de aprendizagem. Situações que reflitam o contexto da vida real, de forma que a informação nova se “ancore” na compreensão anterior

6. O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões quando testa hipóteses. Promover situações em que se aceite tentativas e aproximações ao gerar hipóteses e apresentação de evidências. Uso de resolução de “casos” e simulações.

7. O cérebro responde, devido a herança primitiva, às gravuras, imagens e símbolos. Propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento através das artes visuais, música e dramatizações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do pressuposto de que aprender é promover a aquisição de novos conhecimentos, modificabilidade cognitiva e comportamental e de que todo esse processo resulta do funcionamento cerebral, compreender as bases neurobiológicas da aprendizagem torna-se fundamental na formação do professor no século XXI. Os sistemas de ensino devem assegurar a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais, nenhum sistema de ensino poderá impor uma homogeneidade ou normalidade ideal. Educar na diversidade é hoje o grande desafio dos professores que irão lidar em sala de aula, cada vez mais heterogêneas, com alunos com deficiências, transtornos, dificuldades, enfim, modalidades diferentes de aprender. A atenção à diversidade de capacidades, motivações e interesses dos alunos é um objetivo que os profissionais da educação estão tentando abordar há muitas décadas com maior ou menor sucesso. Mas agora é chegada a hora, a educação inclusiva é lei, nenhuma criança poderá ficar excluída da escola regular. Como ensinar da melhor maneira que esses cérebros possam aprender? Como esses cérebros se organizam, funcionam, quais as limitações e potencialidades desses alunos? Quais as intervenções adequadas para promover a aquisição da leitura e da escrita pautadas em evidências científicas? Tais questionamentos precisam ser respondidos pelos educadores que devem, urgentemente, buscar cursos onde possam conhecer as bases neurobiológicas do processo de aprender, para através desse conhecimento, que não é ofertado em cursos de formação superior, desenvolver melhores estratégias pedagógicas. A neurociência oferece um grande potencial para nortear a pesquisa educacional e futura aplicação em sala de aula. Pouco se publicou até hoje para uma melhor análise retrospectiva, mas, sem dúvida, a neurociência se constitui hoje, como uma grande aliada do professor, diante deste cenário tão diverso com a qual iremos nos deparar. A neurociência nos traz um novo conceito, o conceito do sujeito cerebral. Precisamos compreender que existe uma biologia, uma anatomia, uma fisiologia naquele cérebro que aprende, que é único na sua singularidade dentro da diversidade de alunos em sala de aula. Conhecer as características individuais dos alunos com necessidades educacionais especiais, contidas nos princípios humanos que reconhecem sua diversidade, a fim de traçar o melhor atendimento a ser ofertado para que ele possa desenvolver todas as suas capacidades, sem dúvida, fará com que, nós, professores, busquemos conhecimentos neurobiológicos advindos das neurociências e de suas subáreas a fim de que possamos lidar com essa diversidade de alunos em nossa sala de aula construindo com esses conhecimentos, novas competências pedagógicas, promovendo através destas, práticas pedagógicas inclusivas, respeitando as diversidades e a singularidade de nossos aprendizes. Nas décadas vindouras podemos esperar o início do descobrimento de complexidades do cérebro e entender pelo menos a natureza das principais funções cognitivas envolvidas no ato de aprender e como fazer, pedagogicamente falando, para otimizá-las. Nos tornando capazes de reconstruir nossa prática educativa em cima de uma sólida teoria do aprendizado.Diante disso, percebe-se que a  neurociência oferece um grande potencial para nortear a pesquisa educacional e futura aplicação em sala de aula. Pouco foi publicado para uma análise retrospectiva. Contudo, faz-se necessário construir pontes entre a neurociência e a prática educacional, havendo forte indicação de que a neurociência cognitiva está bem colocada para fazer esta ligação de saberes e entre os saberes diversos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SESP, 2001..

FONSECA, V. Educação especial: programa de estimulação precoce- Uma introdução às idéias de Feurerstein. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

_______. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica
e psicopedagógica. Petrópolis,RJ: Vozes,2007.

GREENFIELD, Susan A. O cérebro humano: uma visita guiada/tradução de Alexandre Tort; revisão técnica, Regina Lúcia Nogueira – Rio de janeiro: Rocco, 2000.

Um comentário:

  1. Oi!
    Muito legal seu blog Parabéns!

    Ótima semana! Sucesso!

    Gostaria de fazer um convite.
    Contato:mariacatherinerabello@com.br

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