sábado, 30 de abril de 2011

PEDAGOGIA WALDORF

1. Introdução
Valdemar W. Setzer.
Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a auto-educação. [...] Toda educação é auto-educação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.

Rudolf Steiner, A Prática Pedagogócia (São Paulo: Ed. Antroposófica), palestra de 20/4/1923, GA 306


A Pedagogia Waldorf foi introduzida por Rudolf Steiner em 1919, em Stuttgart, Alemanha, inicialmente em de uma escola para os filhos dos operários da fábrica de cigarros Waldorf-Astória (daí seu nome), a pedido deles. Distinguindo-se desde o início por ideais e métodos pedagógicos até hoje revolucionários, ela cresceu continuamente, com interrupção durante a 2a. guerra mundial, e proibição no leste europeu até o fim dos regimes comunistas. Hoje conta com mais de 1.000 escolas no mundo inteiro (aí excluídos os jardins de infância Waldorf isolados).
As escolas Waldorf sempre foram integradas da 1a à 8a (ou 9a) séries, e até a 12a quando possuem o ensino médio, de 4 anos. Não há repetições de ano, e nem atribuição de notas no sentido usual.
Uma das principais características da Pedagogia Waldorf é o seu embasamento na concepção de desenvolvimento do ser humano introduzida por Rudolf Steiner .Essa concepção leva em conta as diferentes características das crianças e adolescentes segundo sua idade aproximada. O ensino é dado de acordo com essas características: um mesmo assunto nunca é dado da mesma maneira em idades diferentes.
Ela é uma pedagogia holística em um dos mais amplos sentidos que se pode dar a essa palavra quando aplicada ao ser humano e à sua educação. De fato, ele é encarado do ponto de vista físico, anímico e espiritual, e o desabrochar progressivo desses três constituintes de sua organização é abordado diretamente na pedagogia. Assim, por exemplo, cultiva-se o querer (agir) através da atividade corpórea dos alunos em praticamente quase todas as aulas; o sentir é incentivado por meio de abordagem artística constante em todas as matérias, além de atividades artísticas e artesanais, específicas para cada idade; o pensar vai sendo cultivado paulatinamente desde a imaginação dos contos, lendas e mitos no início da escolaridade, até o pensar abstrato rigorosamente científico no ensino médio. O fato de não se exigir ou cultivar um pensar abstrato, intelectual, muito cedo é uma das características marcantes da pedagogia Waldorf em relação a outros métodos de ensino. Assim, não é recomendado que as crianças aprendam a ler antes de entrar na 1a série. Sobre a necessidade do brincar infantil no jardim-de-infancia, veja-se o artigo "Crisis in the Kindergarten: why Children Need to Play in School" editado pela Alliance for Childhood. Para as caracterizações sucintas do desenvolvimento infantil e juvenil em períodos de 7 anos, os setênios, base fundamental da pedagogia, vejam-se os artigos de Sonia Setzer sobre educação e drogas e o de Sonia Ruella. Como o computador força um pensamento lógico-simbólico, nenhuma escola Waldorf digna desse nome utiliza essa máquina, sob qualquer forma, antes do ensino médio (9a série na seriação Waldorf); ver artigos a respeito.
As escolas Waldorf são totalmente livres do ponto de vista pedagógico, pertencendo em geral a uma associação beneficente sem fins lucrativos. Idealmente, a administração escolar é feita pelos próprios professores .Cada escola é independente da outra: o único que as une é o ideal de concretizar e aperfeiçoar a pedagogia de R.Steiner, visando formar futuros adultos livres, com pensamento individual e criativo, com sensibilidade artística, social e para a natureza, bem como com energia para buscar livremente seus objetivos e cumprir os seus impulsos de realização em sua vida futura. O amor que os professores Waldorf devem desenvolver pelos seus alunos, e o conhecimento profundo que eles adquirem de cada aluno são outras características fundamentais da pedagogia. Por exemplo, idealmente durante os 8 anos do ensino fundamental cada classe tem um único professor que dá todas as matérias principais, isto é, fora artes, artesanato, educação física e línguas estrangeiras (em geral duas, nos 12 anos de escolaridade). No ensino médio há um professor que, durante os 4 anos, assume o papel de tutor da classe. O médico escolar tem nas escolas Waldorf um papel fundamental de apoio médico-pedagógico aos professores, e deve conhecer profundamente a pedagogia.
Nos Estados Unidos, as melhores universidades costumam aceitar com preferência os ex-alunos Waldorf, pois sabem que se trata de jovens diferenciados, com uma vasta cultura, com capacidade de concentração e aprendizado, e alta criatividade. Nesse país, que tanto se caracteriza pela praticidade de seu povo e pela liberdade de ensino, houve nos últimos 30 anos uma explosão de escolas Waldorf, que passam hoje em dia de uma centena.
No Brasil há 25 escolas Waldorf ou de inspiração Waldorf (sem contar jardins de infância isolados), sendo 4 em S.Paulo (3 com ensino médio). A mais antiga, existente desde 1956, é a Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, que tem cerca de 850 alunos e 75 professores. Agregado a ela há o curso mais antigo de formação de professores Waldorf no Brasil, reconhecido oficialmente. Em 2010, segundo o site da Federação das Escolas Waldorf no Brasil, há um total de 73 escolas Waldorf reconhecidas por ela, com 2050 professores e 2500 alunos de jardim de infância, 4180 alunos no ensino fundamental, 580 no ensino médio.

No Brasil, espera-se que os formados no ensino médio ainda façam um semestre ou um ano de cursinho para entrar nos cursos superiores mais concorridos, se bem que tem havido muitos casos de aprovação no vestibular nas melhores universidades, sem cursinho. Em geral, os ex-alunos entram em faculdades de procura média sem necessidade de preparo adicional. 2. Publicações, artigos e vídeos

Há muita literatura sobre pedagogia Waldorf em português, principalmente publicada pela Editora Antroposófica e pela Federação das Escolas Waldorf no Brasil.

O currículo Waldorf de E.A. Karl Stockmeyer

Veja, o primeiro sistematizado sobre a pedagogia Waldorf, traduzido do livro de E.A.K. Stockmeyer Rudolf Steiners Lehrplan für die Waldorfschule (O currículo de Rudolf Steiner para as escolas Waldorf), 2ª edição apostilada de 1965; a primeira edição datou de 1955.

Livros especialmente recomendados

  1. Rudolf Lanz. A Pedagogia Waldorf – Caminho para um Ensino mais Humano, 6ª ed., S.Paulo: Ed. Antroposófica 1998.
  2. Leonor von Osterroht. Da Manhã ao Anoitecer – jardim de infância cantando e brincando. Botucatu: Editora Diagrama, 2008. Trata-se de livro, fruto de 25 anos da autora como professora de jardim de infância Waldorf, com canções infantis, inclusive muitas alemãs traduzidas especialmente pela autora; estas últimas são especialmente recomendadas pela sua singeleza e adequação a crianças pequenas (nada de "Atirei um pau no gato-to", "O cravo brigou com a rosa" etc.). O volume contém as letras e as pautas musicais das canções e um CD com 49 delas gravadas pela autora acompanhada de violão, o que permite que professores de jardins de infância e pais possam aprendê-las mesmo sem conhecer notas musicais. O livro está à disposição na loja da Editora Antroposófica e também diretamente com a autora, tel. (14) 3882-3649. Cantar constantemente com crianças é parte essencial da educação Waldorf. A propósito, na contra-capa do livro lê-se: "Nota da autora: O CD com as músicas que acompanha esse livro é destinado aos educadores. Recomendamos não tocá-lo para as crianças. Nada como a criança ouvir pela voz da professora." Ouça uma das canções do volume (formato wma, 362 kB).

Artigos e textos

  1. Artigo "A educação pode contribuir na prevenção do consumo de drogas?" da médica antroposófica Sonia A.L. Setzer, que durante 28 anos foi médica escolar da Escola Waldorf Rudolf Seiner de São Paulo.
  2. Vários ensaios e artigos de Valdemar W. Setzer em português, espanhol, inglês e alemão inspirados na pedagogia Waldorf, tratando de problemas de uso de computadores na educação, joguinhos eletrônicos, televisão, tecnologia, considerações contra o aprendizado precoce de leitura, computadores e arte, ciência e espiritualidade, etc., e um relato de um curso ("época", no jargão Waldorf) sobre a lenda de Parsifal ministrado por Sonia A.L. Setzer para um 11o. ano da Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo.
  3. Texto bilíngüe (português/alemão) com um folheto editado pela União das Escolas Waldorf sobre o problema da idade de escolarização.
  4. Artigo de Anderson Paulino de Souza, sobre a questão da disciplinado ponto de vista da Pedagogia Waldorf. Relato dele sobre uma interessante palestra que ele proferiu contra a alfabetização precoce para pais de um jardim de infância Waldorf em formação.
  5. Artigo de Sonia Ruella onde são descritos sucintamente os 3 primeiros setênios, divisão fundamental na pedagogia Waldorf, e como o professor deve atuar em cada um.
  6. Descrição de uma iniciativa de instalar jardins de infância Waldorf no Vietnam (em inglês).
  7. Artigo de Wanda Ribeiro (socióloga) e Juan Pablo (engenheiro e empresário), pais da Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, relatando resultado de levantamento estatístico feito com ex-alunos dessa escola, a fim de desmistificar 7 mitos correntes sobre os resultados da Pedagoia Waldorf. Versão em inglês, estendida. Idem, com gráficos, publicada pelo Waldorf Researchers and Educators Network (WREN). Versão em alemão. Ver também o artigo 13 abaixo.
  8. Artigo de Valdemar W. Setzer comentando o capítulo "Rudolf Steiner 1861-1925" do livro de Joy A. Palmer 50 Grandes Educadores - de Confúcio a Dewey; esse artigo contém várias informações sobre Pedagogia Waldorf, Antroposofia e Rudolf Steiner.
  9. Artigo de Valdemar W. Setzer comentando o capítulo "Rudolf Steiner" do livro de Fritz März Grandes Educadores: Perfis de grandes educadores e pensadores pedagógicos.
  10. Texto humorístico "Você é Waldorf quando..." elaborado por participantes do GEA (Grupo de Ex-Alunos Waldorf).
  11. Artigo de Sonia Setzer "As peças natalinas de Oberufer". Essas peças são tradicionalmente representadas na época do Natal pelos professores de escolas Waldorf, para os alunos e pais, todos os anos, no mundo todo. São também representadas em outras instituições antroposóficas, como instituições para deficientes, clínicas, hospitais, fazendas biodinâmicas, etc.
  12. Artigo de Edward Miller and Joan Almon, "Crisis in the Kindergarten: why Children Need to Play in School" sobre a necessidade de crianças brincarem no jardim-de-infância, publicado pela Alliance for Childhood
  13. Artigo de Douglas Gerwin e David Mitchell, "Standing out without standing alone: profile of Waldorf School graduates", com várias tabelas com estatísticas mostrando o excelente desempenho dos formados em escolas Waldorf nos EUA. Ver também o artigo 7 acima.
  14. Artigo de Ana Gonzaga, "Rudolf Steiner: o defensor da sensibilidade – Aliando ensino e espiritualidade, o educador austríaco desenvolve a Pedagogia Waldorf" publicado na revista da Ed. Abril Nova Escola, ed. 228, dez. 2009, com comentários de V.W. Setzer inseridos no texto.
  15. Artigo de Valdemar W. Setzer "Meu filho está terminando o ensino fundamental Waldorf. E agora?" Alguns pais de alunos de escolas Waldorf planejam tirá-los dessas escolas para cursarem o ensino médio em uma escola tradicional; o artigo analisa possíveis razões para isso, mostrando a contrapartida da pedagogia Waldorf.
  16. Descrição do currículo Waldorf do ensino fundamental, ano a ano, em inglês, como ensinado por Eugene Schwartz, com detalhes dos conteúdos de cada "época" (as matérias principais são dadas pelo professor de classe – que acompanha a classe do 1º ao 8º ano) em períodos concentrados de 3 ou 4 semanas (recomendação de Rudolf Steiner; enquanto a criança ou jovem estudam a matéria principal durante uma "época", as outras matérias são trabalhadas e amadurecidas pelo inconsciente).
  17. Lista de muitos artigos de Eugene Schwartz, em inglês, descrevendo vários detalhes da pedagogia Waldorf.
  18. Artigo "Promovendo educação saudável" (em pdf com 1,8 MB), publicado no jornal A Tribuna, de Santos, SP, em 8/12/10, p. A6.
  19. Artigo "Sintonia com a natureza", 1ª página (em pdf, 500 kB), publicado em 21/11/10 em AT Revista Nº 312, do jornal A Tribuna, de Santos, SP. Veja também a 2ª página (755 kB) e a 3ª página (655 kB).
Nas páginas da Federação das Escolas Waldorf no Brasil  encontram-se muitos artigos sobre Pedadogia Waldorf.

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