A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e
atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana,
seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio –
família, escola e sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos
próprios.
Segundo BOSSA (2000), a Psicopedagogia se
ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda – o problema de
aprendizagem[i],
colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia
e da própria Pedagogia – e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que
embrionários, para atender essa demanda, constituindo-se, assim, numa prática.
A Psicopedagogia vem criando a sua identidade
e campo de atuação próprios, que estão sendo organizados e estruturados,
especialmente pelas produções científicas que referenciam o campo do
conhecimento e pela Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
KIGUEL (1983) ressalta que a Psicopedagogia
encontra-se em fase de organização de um corpo teórico específico, visando a
integração das ciências pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica,
neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais integradora do
fenômeno da aprendizagem humana.
O objeto de estudo deste campo do
conhecimento é a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos normais e
patológicos.
É necessário comentar que a Psicopedagogia é
comumente conhecida como aquela que atende crianças com dificuldades de
aprendizagem. É notório o fato de que as dificuldades, distúrbios ou patologias
podem aparecer em qualquer momento da vida e, portanto, a Psicopedagogia não
faz distinção de idade ou sexo para o atendimento.
Atualmente, a Psicopedagogia vem se firmando
no mundo do trabalho e se estabelecendo como profissão.
O Projeto de Lei 3.124/97 do Deputado Barbosa
Neto que prevê a regulamentação da profissão de Psicopedagogo e que cria o
Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicopedagogia, está em tramitação
na Câmara dos Deputados em Brasília na Comissão de Constituição, Justiça e
Redação.
A regulamentação da profissão ocorrerá para o
nível de especialização e o projeto já foi aprovado na Comissão do Trabalho e
na Comissão de Educação, Cultura e Desporto.
SOBRE
A PSICOPEDAGOGIA
Historicamente, segundo BOSSA (2000) os
primórdios da Psicopedagogia ocorreram na Europa, ainda no século XIX,
evidenciada pela preocupação com os problemas de aprendizagem na área médica.
Acreditava-se na época que os
comprometimentos na área escolar eram provenientes de causas orgânicas, pois
procurava-se identificar no físico as determinantes das dificuldades do
aprendente. Com isto, constituiu-se um caráter orgânico da Psicopedagogia.
De acordo com BOSSA (2000), a crença de que
os problemas de aprendizagem eram causados por fatores orgânicos perdurou por
muitos anos e determinou a forma do tratamento dada à questão do fracasso
escolar até bem recentemente.
Nas décadas de 40 a 60, na França, a ação do
pedagogo era vinculada à do médico. No ano de 1946, em Paris foi criado o
primeiro centro psicopedagógico. O trabalho cooperativo entre médico e pedagogo
era destinado a crianças com problemas escolares, ou de comportamento e eram
definidas como aquelas que apresentavam doenças crônicas como diabetes, tuberculose,
cegueira, surdez ou problemas motores. A denominação “Psicopedagógico” foi
escolhida, em detrimento de “Médico Pedagógico”, porque acreditava-se que os
pais enviariam seus filhos com menor resistência.
Em decorrência de novas descobertas científicas
e movimentos sociais, a Psicopedagogia sofreu muitas influências.
Em 1958, no Brasil surge o Serviço de
Orientação Psicopedagógica da Escola Guatemala, na Guanabara (Escola
Experimental do INEP - Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC). O
objetivo era melhorar a relação professor-aluno.
Nas décadas de 50 e 60 a categoria profissional
dos psicopedagogos organizou-se no país, com a divulgação da abordagem
psico-neurológica do desenvolvimento humano.
Atualmente novas abordagens teóricas sobre o
desenvolvimento e a aprendizagem, bem como inúmeras pesquisas sobre os fatores
intra e extra- escolares na determinação do fracasso escolar, contribuíram para
uma nova visão mais crítica e abrangente.
CAMPO
DE ATUAÇÃO
O campo de atuação está se ampliando, pois o
que inicialmente caracterizava-se somente no aspecto clínico (Psicopedagogia
Clínica), hoje pode ser aplicado no segmento escolar (Psicopedagogia
Institucional) e ainda em segmentos hospitalares, empresariais e em
organizações que aconteçam a gestão de pessoas.
O aspecto clínico é realizado em Centros de
Atendimento ou Clínicas Psicopedagógicas e as atividades ocorrem geralmente de
forma individual.
O aspecto institucional, como já mencionado,
acontecerá em escolas e organizações educacionais e está mais voltada para a
prevenção dos insucessos relacionais e de aprendizagem, se bem que muitas
vezes, deve-se considerar a prática terapêutica nas organizações como
necessária.
A Psicopedagogia aplicada a segmentos
hospitalares e empresariais está voltada para a manutenção de um ambiente
harmônico e à identificação e prevenção dos insucessos interpessoais e de
aprendizagem. Pode ser realizada de forma individual ou em grupo.
É possível perceber que a Psicopedagogia
também tem papel importante em um novo momento educacional que é a inserção e
manutenção dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE) no ensino
regular, comumente chamada inclusão.
Entende-se que colocar o aluno com NEE em
sala de aula e não criar estratégias para a sua permanência e sucesso escolar
inviabiliza todo o movimento nas escolas. Faz-se premente a necessidade de um
acompanhamento e estimulação dos alunos com NEE para que as suas aprendizagens
sejam efetivas.
ÉTICA
PROFISSIONAL
Os psicopedagogos devem seguir certos princípios
éticos que estão condensados no Código de Ética, devidamente aprovado pela
Associação Brasileira de Psicopedagogia, no ano de 1996.
O Código de Ética
regulamenta as seguintes situações:
·
os princípios da Psicopedagogia;
·
as responsabilidades dos psicopedagogogos;
·
as relações com outras profissões;
·
o sigilo;
·
as publicações científicas;
·
a publicidade profissional;
·
os honorários;
·
as relações com a educação e saúde;
·
a observância e cumprimento do código de
ética; e
·
as disposições gerais.
A
PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA NO CENTRO DE ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO –
A Psicopedagogia Clínica tem como missão, retirar as pessoas da sua condição inadequada de
aprendizagem, dotando-as de sentimentos de alta auto-estima, fazendo-as
perceber suas potencialidades, recuperando desta forma, seus processos internos
de apreensão de uma realidade, nos aspectos: cognitivo, afetivo-emocional e de
conteúdos acadêmicos. O CEAP foi constituído em 1988 e desde então vem
prestando serviço à comunidade.
Dentre as ações
desenvolvidas pelos psicopedagogos no CEAP, pode-se destacar:
·
Avaliar e diagnosticar as condições da
aprendizagem, identificando as áreas de competência e de insucesso do
aprendente;
·
Realizar devolutivas[ii]
para os pais ou responsáveis, para a escola e para o aprendente;
·
Atender o aprendente, estabelecendo um
processo corretor[iii]
psicopedagógico com o objetivo de superar as dificuldades encontradas na
avaliação;
·
Orientar os pais quanto a suas atitudes para
com seus filhos, bem como professores para com seus alunos;
·
Pesquisar e conhecer a etiologia ou a
patologia do aprendente, com profundidade;
·
Realizar os encaminhamentos necessários para
sanar a problemática evidenciada;
·
Oferecer cursos para capacitação docente e de
Psicopedagogia Preventiva.
Para a prática diagnóstica da(s) dificuldade(s) apresentada(s) pelos
aprendentes, são considerados os seguintes aspectos:
-
orgânicos e motores: dizem respeito à estrutura
fisiológica e cinestésica do sujeito que aprende;
-
cognitivos e intelectuais: dizem respeito ao
desenvolvimento, a estrutura e ao funcionamento da cognição, bem como ao
potencial intelectual;
-
emocionais: ligados a afetividade e emotividade;
-
sociais: relacionados ao meio em que o aluno se
encontra;
-
pedagógicos: estão incluídas questões didáticas,
ligadas a metodologia de ensino e de avaliação, nível e quantidade de
informações, número de alunos em sala e outros elementos que dizem respeito ao
processo ensino-aprendizagem.
Cabe destacar que cada área avaliada,
necessita de recursos, provas e testes específicos.
De acordo com BOSSA (2000), em geral, no
diagnóstico clínico, ademais de entrevistas e anamnese, utilizam-se provas
psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível mental, provas pedagógicas,
provas de percepção, provas projetivas e outras, conforme o referencial teórico
adotado pelo profissional.
O psicopedagogo deve ser um profissional que
tem conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo de avaliação
diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar dados em várias áreas. O
conhecimento dessas áreas fará com que o profissional compreenda o quadro
diagnóstico do aprendente e favorecerá a escolha da metodologia mais adequada,
ou seja, o processo corretor, com vista a superação das inadequações do
aprendente.
É necessário ressaltar também que a
atualização profissional é imperiosa, uma vez que trabalhando com tantas áreas,
a descoberta e a produção do conhecimento é bastante acelerada.
No que diz respeito à Pedagogia, a relação
que se pode estabelecer com a Psicopedagogia, é que ela representa uma das
colunas de sustentação do emergente campo de conhecimento, assim como igual
importância, tem a Psicologia e outras áreas de conhecimento que o permeiam.
A Psicopedagogia nasceu, especialmente, da
necessidade de compreensão e atendimento às pessoas com dificuldades e
distúrbios de aprendizagem e ao longo de sua estruturação, veio e vem
adquirindo novas perspectivas.
Ms. Luciene Martins Tanaka
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, Laura Mont Serrat. O
projeto de trabalho – uma forma de atuação psicopedagógica.
Curitiba, Paraná: Gráfica Arins, 1999.
BOSSA,
Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas Sul, 2000.
CASTANHO,
Marisa Irene Siqueira. Artigo: Competências
na Psicopedagogia: um enfoque para o novo milênio. in Revista
Psicopedagogia, volume 19 - n.º 59, 2002.
KIGUEL,
Sonia Moojen. Reabilitação em Neurologia
e Psiquiatria Infantil – Aspectos Psicopedagógicos. Congresso Brasileiro de
Neurologia e Psiquiatria Infantil – A Criança e o Adolescente da Década de 80.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Abenepe, vol. 2, 1983.
FAGALI,
Eloísa Quadros. VALE, Zélia Del Rio do.
Psicopedagogia Institucional Aplicada. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
1993.
SCOZ,
Beatriz. Psicopedagogia e Realidade
Escolar. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
SCOZ,
Beatriz. RUBISTEIN, Edith. ROSSA, Eunice Maria Muniz. BARONE, Leda Maria
Codeço. Psicopedagogia – o caráter
interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Rio
Grande do Sul: Artes Médicas, 1987.
VISCA,
Jorge. Clínica Psicopedagógica.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas, 1987.
[i] As
dificuldades ou problemas de aprendizagem caracterizam-se como déficits
manifestados sob a forma de discrepância entre o nível de realização esperado e
o atingido, nos processos: da linguagem falada, da leitura e da escrita, da
ortografia, da caligrafia ou da
aritmética.
[ii] A devolutiva é a transmissão do resultado
encontrado no processo de avaliação psicopedagógica.
[iii]
Segundo Visca (1987), o processo
corretor é o conjunto de operações clínicas através do qual se facilitam o
aparecimento e a estabilização de condutas.
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