A Clínica Psicanalítica teve muitas mudanças com o passar dos tempos, porém, a condição que permaneceu imutável para uma análise, foi o vínculo de confiança entre analista e cliente ou ‘paciente’. O setting proposto por Freud foi readequado para atender às demandas de cada paciente e também de cada período histórico. Antes era uma exigência "sine qua nom" atender o paciente deitado no divã sem que os olhares pudessem se cruzar. Hoje, dependendo do paciente, o olhar deve estar presente, dando um sentimento de segurança e amparo onde o paciente sinta-se acolhido para falar. A partir de Winnicott, a relação estabelecida na clínica psicanalítica passa a ser de proporcionar um ambiente facilitador, nos moldes da primeira relação mãe-bebê, para o cliente. Podemos pensar que a relação estabelecida na clínica pode ser um protótipo, um simulacro, de todas as outras relações que se seguirão, e que, quando é suficientemente boa, traz uma relação de confiança que permanece na adolescência e na vida adulta. Tais relações criam um diálogo e uma escuta do outro que passa a ser seu fundamento; mas quando não é adequada pode trazer alguns sofrimentos psíquicos. Pensando sobre a adolescência, esta fase pode ser vista como um indicador de mudança de setting. O presente trabalho traz uma perspectiva clínica de uma paciente de 15 anos que não conseguia falar com as pessoas, que não tinha um lugar para falar, que não tinha quem a escutasse. O atendimento para ela passou a ser o ambiente facilitador para que ela pudesse, pela primeira vez, experimentar falar de si e assim ser vista.
Surgem assim alguns questionamentos como:
O que a clínica psicanalítica pode oferecer de diferente das outras conversas cotidianas?
Por que se faz necessário hoje o atendimento clínico com adolescentes?