quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

POR UMA EDUCAÇÃO HUMANIZADORA

‘Por uma Educação Humanizadora’:
              Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope para melhor e para pior,    a inteligência não dá-me nada quando as emoções diminuem
                                                                                                              ( Antunes, Celso- 1996, p.11).
Os conteúdos tradicionais que vêm sendo ensinados nas escolas, não incluem os conhecimentos e vivências (práticas) que as pessoas precisam para crescer e desenvolver-se em sua integralidade. Percebe-se que as emoções, sentimentos e relações interpessoais não têm merecido nenhuma atenção, sendo deixados ao acaso, na maioria das vezes, resultando em sérios problemas, afetando educandos e educadores, além da escola e sociedade em geral.
É necessário que o eixo de análise seja modificado, passando a tratar o sujeito como objeto do conhecimento, valorizando seus processos de construção, levando em conta as formas de conteúdo e suas ações, além de tratar o objeto como sujeito, desmontando-o analisando suas formas, segundo os conteúdos das ações das crianças. Também se faz  importante que visualizemos professores que conservem seus compromissos pedagógicos e de valores, mas que também estejam abertos, para um futuro que lhes pede que saiam de suas casas, dialoguem com o mundo, modifiquem suas formas de resolver situações problemáticas, tornando-se assim "livres" para todas as possibilidades e caminhem em busca do objetivo maior do trabalho docente: "o desenvolvimento de seus alunos, a felicidade e realização de si e dos próprios educandos".
Diante disso, cabe aos verdadeiros educadores brasileiros a tomada de decisão para assumir uma posição: ou considera-se a articulação entre ensino/aprendizagem, teoria/-prática, refletindo-se mais sobre "o ser" como sujeito do seu conhecimento, sendo em sua integralidade respeitado, para que um ensino de alta qualidade seja de fato alcançado; ou então torceremos para que "alunos com dificuldades de aprendizagem nunca cruzem nosso caminho, muito menos nossa sala de aula. Seria então a "afetividade" uma saída para alcançarmos uma educação de qualidade e humanizadora?  Primeiramente é preciso definir o que vem a ser "afetividade" e "humanizado". Eis as definições, segundo o minidicionário da língua portuguesa "Aurélio": Afetividade – qualidade ou caráter de afetivo. Afetivo - que tem ou em quem há afeto; afetuoso; relativo a afeto. Já Humanizar - dar condição humana a; humanar-se; civilizar; tornar-se humano. Há muitos questionamentos quanto à influência que a afetividade pode exercer sobre a aprendizagem de alunos com dificuldades escolares, educacionais e pedagógicas. No entanto, uma educação de qualidade, pensada à luz da afetividade é um processo contínuo, que se estende do lar até à escola e vice-versa. Existe então, a necessidade essencial de se estabelecer parcerias entre Escola e Família, através de relações amistosas, com objetivos comuns e contratos claros que envolvam: humildade, flexibilidade, sinceridade, cumplicidade, responsabilidades compartilhadas e bem definidas, estabelecendo-se "limites", visando o sucesso do aluno como um ser em formação integral, que seja capaz de vencer obstáculos, preparando-o assim para a vida!
Seria isso "utopia ou miragem?" A questão é que todo ser humano busca orientar sua vida com o propósito de elevar sua auto-estima.
Não pretendemos dar mais ênfase ao aspecto prático do ensino, do que ao teórico, ou vice-versa, uma vez que não constituem universos opostos, afinal nada justificaria direcionarmos a educação para apenas um deles, excluindo o outro; a não ser que se pretendesse manter uma situação, o que não é o caso. No entanto, a conscientização do educador de que humanizar crianças e jovens com afetividade, seguramente constitui-se numa esperança maior para um amanhã melhor. A verdade é que somos corpo, mas também sentimentos, paixões, anseios, o que representa uma força extraordinária, que muito mais do que a cultura conduz-nos à "esperança de felicidade e sucesso". Somos seres humanos e lidamos com tais seres, então é necessário que a educação se torne também "humanizadora", valorizando as relações interpessoais, bem como a emotividade, que segundo Daniel Goleman, também pode ser educada. O desenvolvimento do tema exige a compreensão de conceitos e explicitação dos pressupostos básicos envolvidos, o porquê de sua aplicação no ensino fundamental em especial, o como ensinar e a quem atribuir a responsabilidade pela reflexão da necessidade de mudanças em nossas instituições escolares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 "Uma visão da natureza humana que ignora o poder das emoções é lamentavelmente  míope... para melhor ou para pior. A inteligência não dá-me nada quando as emoções dominam".
                                                                                   (Celso Antunes - 1996- XIII).
A idéia principal deste artigofoi a de evidenciar a necessidade da reformulação de práticas educacionais, aproximando-as o máximo possível das teorias propostas, usando com isso, melhoria da qualidade de ensino, buscando a efetivação de uma educação humanizadora. A nossa proposta seria de uma reestruturação das práticas educacionais e pedagógicas existentes em nossas escolas, tendo como base questionários relatados, além das pesquisas e estudos que apontam para a necessidade de uma mudança global na organização das instituições e na visão de educadores, afetando entre outras coisas, o relacionamento estabelecido entre Família e Escola. Essa nova forma de encarar a educação como sendo "integral", ou seja, ela não acontece somente na escola, mas antes inicia-se na família, pode ser vista como uma porta de entrada de alternativas e possibilidades, para que um "sistema de parceria" passe a fazer parte de nosso cotidiano, onde as responsabilidades serão divididas e compartilhadas entre essas instituições educativas. De acordo com a UNESCO de 1998, para conseguirmos responder ao conjunto das missões da educação, a mesma deve organizar-se em torno de "quatro pilares", ou seja, de quatro aprendizagens fundamentais para o longo de toda a vida do indivíduo. São eles: "aprender a conhecer- adquirindo instrumentos de compreensão; aprender a fazer- para poder agir sobre o meio que o envolve; aprender a viver juntos- participando e cooperando com outros em todas as atividades humanas; finalmente o aprender a "ser"- como uma via essencial que integra as três precedentes. Todas essas vias do saber constituem-se numa só, visto que existem muitos pontos de relacionamento e permuta". No entanto, em regra geral, podemos dizer que o ensino formal, orienta-se quase que essencialmente para o aprender a conhecer, deixando um pouco de lado o aprender a fazer e as outras aprendizagens acima citadas como "pilares importantes da educação". Nosso desafio então seria: resgatar o lado humano de cada sujeito envolvido no processo educativo, seja ele na família, ou na escola. O importante, é resgatar a auto-estima que muitos já não possuem. Depois desse resgate de "amor próprio", o indivíduo já é capaz de conhecer a si mesmo e aos seus "desejos", utilizando-se de sua autonomia intelectual e moral para "buscar" realizar suas potencialidades, através de interações interpessoais, onde a "comunicação" será de extrema valia para alcançar o sucesso esperado. Nesse momento, a "esperança" estará motivando suas ações, respeitando as limitações de até que ponto se poderá agir, ou seja, a quem caberá certas decisões a serem tomadas na educação de nossas crianças e jovens: família ou escola/ ou será família e escola? Será possível estarmos então estabelecendo essa tão preciosa "parceria" entre as duas instituições educativas que se completam? Acreditamos que nosso trabalho possa ajudar na construção de escolas e famílias mais abertas e participativas, acrescentando sugestões que possam melhorar este instrumento, como mais alguns recursos para o ensino, aprendizagem, crescimento pessoal e para a educação brasileira em seu aspecto mais abrangente. Queremos sim visualizar a existência de uma educação formadora de "seres integrais" na prática escolar, mas para isso devemos eliminar o dualismo absurdo entre a teoria e a prática, bem como entre o valor da cultura e o papel das emoções na difícil arte de viver. A verdade é que nossos sentimentos, paixões e anseios mais profundos, constituem uma extraordinária força que, muito mais que a cultura ou a teoria, conduz nossas esperanças de felicidade e sucesso. Poderíamos até dizer que nossa evolução se deu devido à emotividade, que ocupa papel essencial na solução de problemas proeminentes da vida, uma vez que é ela quem nos conduz quando surgem provações essenciais a serem deixadas à nossa própria intelectualidade.

Felizmente as emoções também podem ser educadas, como Daniel Goleman comprovou em suas inúmeras pesquisas, o que nos mostra de maneira transparente, que não só é possível ensinar-se o domínio das emoções, como já existem instituições desenvolvendo esses programas com sucesso. Assim, cabe aos verdadeiros educadores brasileiros, a tomada de posição: abrindo mais espaço para que o "ser humano" em sua integralidade, com sentimentos, emoções e desejos, incorpore-se aos princípios e fins de nossa "escola formal", aproximando o máximo possível de sua vivência familiar, para que "família e escola" andem como aliadas e não como adversárias. É nossa intenção também, deixar como reflexão, que estamos a serviço do acompanhamento da aprendizagem e não simplesmente da ação didática, que só se efetivará se houver um "plano de ação conjunto", entre escola e família, para que a "teoria se torne prática" e seja significativo para nossos alunos. É o observar, o agir, mas sabendo o porquê, o para quê e o como agir. Parece que nossas instituições de ensino não estão preocupadas com a felicidade pessoal e nem com a construção de uma felicidade social, nem tampouco com a auto-estima dos seus alunos. É por isso que nos propusemos a repensar as práticas pedagógicas e relacionais de nossas escolas, levando em consideração o aspecto emocional de todo o desenvolvimento humano.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, C. Alfabetização Emocional.  São Paulo. Terra, 1996.
AQUINO, J.G. Erro e Fracasso na Escola.  Summus, 1997.
AQUINO, J.G. Indisciplina na escola.  Summus, 1996.
AURÉLIO, Minidicionário da Língua Portuguesa.  Nova Fronteira, 2000.
BRANDEN, N. Auto-Estima e seus Pilares.  São Paulo.  Saraiva, 2000.
BERNA, V. O Desafio do Mar.  São Paulo. Paulus, 2000.
CASTANHO, S.; ORGS, M. E.  Temas e Textos em metodologia do Ensino Superior.  São Paulo. Papirus, 2001.
CIPRIANO, C. L. Filosofia da Educação.  Cortez, 1990.
CURY, A. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes.  Sextante, 2003.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia.  Paz e Terra, 1997.
GOLEMAN, D.  Inteligência Emocional.  Objetiva, 1995.
MACEDO, L. Ensaios Construtivistas.  São Paulo. Casa dos Psicólogos, 1994.
MORIN, E. Os sete saberes e outros ensaios.  Cortez, 2002

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