sábado, 15 de setembro de 2012

UM ‘RE’ PENSAR SOBRE A GESTÃO ESCOLAR


Sabe-se que a partir da década de 1980, o processo de democratização da sociedade impulsiona todo o sistema educacional brasileiro para mudanças significativas na área da gestão escolar. Com a promulgação da constituição Federal de 1988, ficou garantido como um dos princípios educacionais, a “gestão democrática do ensino público, na forma da Lei” (art. 206 VI). Em 1996, com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, o quadro institucional para a gestão da escola é reafirmado na forma democrática acrescida de denominadores como a participação dos professores e da comunidade e a autonomia pedagógica e administrativa às unidades de ensino[1]

De acordo com Paro(2000) mesmo garantido pela Legislação e reafirmado em propostas políticas dos estados, a gestão democrática nas escolas públicas permanece como bandeira constante de luta dos educadores, funcionários e da comunidade escolar, que tem se manifestado, por meio de entidades organizadas como as associações, sindicatos, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE -, fóruns em defesa da escola pública e também em outras formas não institucionalizadas. Esta luta permanente dos [2]educadores e da sociedade denota o distanciamento entre o pensar e o fazer, entre as atividades de concepção e as atividades laborativas.

Refletir sobre gestão na escola implica no alcance do objetivo final da mesma que é o ensino de qualidade que esteja preocupado com o ‘acesso/permanência e gestão democrática articulada em projetos’, na busca por uma educação PARA TODOS!. Daí, estarmos atentos às formas de articulação efetiva da gestão da escola nas diversas instâncias envolvidas e interessadas por esse ensino. Por outro lado, precisamos considerar a priori, certas reflexões que conduzem o planejamento proveniente de todo um processo mental tecido pelo homem, uma vez que este não dispõe apenas de ações racionais sem que haja reflexões; o pensar sobre um possível e viável fazer, o que acaba por justificar o planejamento em si mesmo. DALMÁS (1994:23), ao refletir sobre o ato de pensar, destaca:

 

Pelo pensamento (reflexão), o homem desenvolve níveis cada vez mais aprimorados de discernimento, compreensão e julgamento da realidade, o que lhe favorece uma conduta comprometida com novas situações da vida.

 

Pensamos que o homem antes de tomar partido frente à realidade concreta de sua vida, recolhe-se aos seus pensamentos, valores e atitudes afim de que se organize e discipline sua ação.

Desta forma, pode-se dizer que o primeiro momento de reflexão, no que tange a planejar é o pensar a realidade. VASCONCELOS (1997:12), considera que neste momento da reflexão o homem deve fazer-se dois questionamentos, relacionados a realidade a qual deseja transformar, sendo estes: “PARA QUE” interferir na realidade, que mudanças pretende alcançar e o “QUE” pretende que nela seja mudado, quais os aspectos na realidade escolar que estão incomodando-lhe e que por isso devem ser repensados. Assim, a sondagem da realidade torna-se a primeira etapa do processo de planejamento.

Um outro momento que norteia o planejamento consiste no pensar  finalidade dele, ou seja, os que planejam devem ter bem definido o que almejam transformar e o que esperam do futuro. Diante dessa intencionalidade os objetivos propostos para as mudanças, serão de relevante importância, pois, definirão o que se deverá esperar com a concretização do planejamento.

Contudo, cabe que os objetivos propostos sejam claros, concretos e de forma que expressem o que se quer alcançar, para que melhor conduza a dinâmica do processo de planejamento, como a sua execução. VASCONCELOS (op. cit., p.16), quando aborda mediação no processo que norteia o planejamento, destaca:

 

Uma ação reflexiva que norteia o planejamento, é quando busca-se construir mentalmente o caminho a ser seguido,ela traduz-se quando intrinsecamente elaboramos uma série de alternativas a serem seguidas, através das quais pretende-se chegar aos objetivos propostos. O resultado deste momento reflexivo é a produção de alternativas para o caminho a ser tomado.

 

Sendo assim, pensa-se que a avaliação do processo de planejamento deve ser a mais criteriosa e científica, para se evitar falhas na sua elaboração e estruturação. Havendo de uma certa forma, um confronto dos resultados alcançados com os resultados desejados.  Daí, a necessidade de considerar-se a mediação como fator importante que requer habilidades em criar estratégias que levem a superação das necessidades anteriormente constatadas. Nessa perspectiva, abre-se precedentes para uma nova forma de direção escolar, não mais submissa a hierarquização, o que dificultava a qualidade do ensino de um modo geral. Hoje, sabemos que o diretor exerce uma função de destaque na escola, a ele atribui-se a responsabilidade máxima quanto a consecução eficaz da política educacional do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais.

O testemunho da gestão na escola, não implica somente olhar a ótica do controle dos recursos financeiros ou humanos, bem como a garantia do cumprimento dos dias letivos e horas/aulas. A gestão democrática representa uma nova forma de administração, que rompe com a concepção de organização burocrática, assumindo a concepção de administração compartilhada e integrada totalmente à esfera pedagógica, com finalidade maior de desenvolver um ensino e aprendizagem que possa compor a vida do educando em todos os aspectos.

A gestão democrática pressupõe um trabalho coletivo, compartilhado, em que os envolvidos sintam vontade, desejo e principalmente compromisso com as ações educativas. Com isso, ela acaba por abrir a escola a comunidade para que todos discutam, opinem, contribuindo assim, para a construção do trabalho educativo e a dimensão política da função do administrador acaba por se revelar no momento da articulação dessas ações coletivas, procurando conduzir o projeto pedagógico da escola e priorizando as questões pedagógicas. Enfim, acredita-se que a gestão democrática significa a conquista da autonomia por parte do aluno, da família e da comunidade. Daí, a vantagem de uma administração escolar participativa, pois as decisões tomadas coletivamente não se referem apenas na ótica de democratizar a escola internamente, mas também fortalece a unidade escolar externamente.

A escola por se tratar também de uma empresa, embora com objetivos diferentes das tradicionais, pois, nela não se visa exclusivamente a produção de bem materiais, também tem sofrido inúmeras mudanças no que diz respeito ao seu processo administrativo. Dentro dessa nova perspectiva, surge o planejamento participativo, que visa descentralizar o poder na escola, mais do que isso busca propiciar a integração de todos os membros que compõe o universo escolar, através do que é chamado de Projeto Político Pedagógico (PPP).

Dentro desse processo que a escola vem passando está o papel do diretor escolar, que deixa de ter a função única de decisão, passando a ter a função de mediador do processo administrativo, é ele que conduzirá o nível de participação da comunidade escolar na construção do planejamento participativo. Cabe a ele junto com o seu corpo técnico e docente propor meios que não só sirvam para a integração dos agentes como também para a realização dos mesmos enquanto sujeitos e transformadores da realidade que os cercam. Contudo, essas inovações implicam em mudanças de concepções, tornando-se necessário que o diretor, corpo técnico, docentes, discentes e comunidade parem e reflitam sobre o que cada um pode contribuir para a qualidade do ensino, uma vez que todos devem ter consciência de sua responsabilidade pela melhoria do ensino.

Diante de tudo que foi lido e visto pela vídeo-aula, ressalta-se aqui a necessidade momentos de reflexões no que tange a racionalidade técnica predominante no envolvimento do administrador com a comunidade escolar na construção do planejamento participativo por uma gestão democrática. Portanto, acredita-se ser este, o momento desse profissional recolher-se em seus pensamentos, valores e preferências para que organize e discipline sua ação, uma vez que, como coordenador do processo de gestão, pode dificultar ou facilitar a implantação de procedimentos participativos.

 



 
1 LDB nº 9394/96, Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político pedagógico da escola; II participação das comunidades escolar e local em conselhos escolar ou equivalente. Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de
direito financeiro público.

Um comentário:

  1. Uma interessante ferramenta de apoio a gestão escolar é o edukante

    http://www.edukante.com

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