quinta-feira, 18 de abril de 2013

A psicopedagogia e as modalidades de aprendizagem

O conceito de Modalidade de Aprendizagem, dado por Alicia Fernández (1991), propicia-nos uma passagem do universal para o particular, da análise estática do aqui/agora para o estudo de um processo dinâmico; de um objeto de conhecimento construído para um objeto de conhecimento em construção. O fundamental aqui é o modo como ocorre o processo de construção de conhecimento no interior do sujeito que aprende. 
Cada um de nós apresenta uma forma, um modo particular singular de entrar em contato com o conhecimento. Isso significa que cada um de nós tem sua particular e individual modalidade de aprendizagem, que oferece uma maneira própria de aproximar-se do objeto de conhecimento, formando um saber que lhe é peculiar. Constrói-se essa modalidade de aprendizagem desde o nascimento do indivíduo, através da qual ele se enfrenta com a angústia inerente ao conhecer-desconhecer. 
A modalidade de aprendizagem se constitui numa matriz, num molde, num esquema de operar utilizado nas várias situações de aprendizagem. Assemelha-se à modalidade sexual e à forma de relação que o indivíduo mantém com o dinheiro, também como a forma de alimentar-se. Por isso, a modalidade de aprendizagem é sempre singular e específica. 
A Psicopedagogia, buscando a Psicanálise como uma área de conhecimento transdisciplinar, concorda que a primeira pessoa que exerce a ensinagem, que transmite um conhecimento para alguém, é aquela que cuida do bebê e que com ele primeiro se relaciona. Esta pessoa pode ser a própria mãe ou alguém que exerça a função materna. È este primeiro vínculo que instaura o espaço transicional que irá possibilitar a ação de aprender. Essa relação intersubjetiva estabelece um vínculo que permitirá alguém aprender e ensinar. O vínculo cria uma modalidade de aprendizagem singular, onde há uma aprendizagem recíproca entre mãe e filho, estabelecendo também uma forma de ensinagem. A mãe pode aprender com o filho, daí porque posiciona-se no lugar de quem pode ensiná-lo. Piera Aulagnier chama de “violência primária necessária” o fato de a mãe precisar pensar pelo seu bebê, nos seus primeiros momentos. Ela utiliza-se de sua capacidade de pensar para criar uma “fala”, “um desejo” como sendo o do seu filho. Porém, ela precisa acreditar que o filho também irá construir sua própria capacidade de pensar e de organizar pensamentos que serão diferentes dos pensados por ela.  Portanto, a Psicopedagogia, tranversalizada pela Psicanálise,  crê que para aprender a pensar necessita-se de um outro que é, ao mesmo tempo, semelhante e diferente, e que irá dar a possibilidade ao indivíduo de tornar-se sujeito, pois aquele que ainda não se constituía como sujeito, para existir como tal, precisa de um outro que lhe dê esta condição. No entanto, é preciso que o outro reconheça o processo de pensar desse sujeito, que lhe outorgue o direito de pensar diferente dos outros. Assim, constituída uma modalidade sadia de aprendizagem, provavelmente esse ser-sujeito vai se relacionar de modo diferente quanto ao conhecimento, quanto à maneira de se colocar diante da agressividade, da violência, e de todas as outras vivências de sua vida, pois construiu uma forma particular de aprender. 
Através do conhecimento da modalidade de aprendizagem do sujeito,  poderemos introduzir um aparato pedagógico que atenda às necessidades específicas do aprendente. Tais necessidades específicas é que vão nortear nosso trabalho. Podemos exemplificar com o caso de uma criança que constantemente manuseie os objetos a ela apresentados. Isso indica que sua modalidade de aprendizagem a faz privilegiar o tato como uma forma de entrar em contato com o objeto de conhecimento. A especificidade da necessidade leva-a a desenvolver uma forma própria de construir seu conhecimento e chegar ao saber direcionado para o lado tátil. Portador desse conhecimento, o psicopedagogo como também o professor usarão atividades que propiciem o ensino das diferentes texturas dos objetos ou mesmo solicitarão ao aprendente falar como é o seu particular modo de perceber o mundo, para daí poderem investigar a forma de como este sujeito está construindo seu conhecimento. 
Segundo Pain (1986), as modalidades de aprendizagem do indivíduo, por sua vez, dependem das modalidades de inteligência. O estudo dessas modalidades vem da análise realizada por Piaget acerca do movimento de acomodação e do movimento de assimilação que o sujeito realiza, para adquirir as primeiras aprendizagens assistemáticas, e que caminharão com ele até chegar às aprendizagens sistemáticas, cujos aspectos positivos e negativos dependerão da maneira como as relações vinculares permeiam esse processo. Pain considera que os referidos movimentos piagetianos, quando perpassados por vínculos negativos, desenvolvem uma hiper e/ou hipoacomodação, ou uma hiper e/ou hipoassimilação, que construirão, no sujeito, modalidades de inteligência patógena. 
Com relação às modalidades de inteligência, achamos interessante para o leitor  resumir esta modalidades, de acordo com a visão de Fernãndez (1991) e Pain (1986) , estabelecendo as relações e conseqüências na aprendizagem.   
  • Hipoassimilação
Modalidade:   pobreza  de  contato  com  o  objeto,  esquemas   de   objeto empobrecidos.
 
-    Conseqüência:   incapacidade  de coordenar estes esquemas, défict lúdico e criativo,  prejuízo  da   função  antecipatória,  da imaginação  e  da  criação.
 
  •   Hiperassimilação
- Modalidade: precocidade na internalização dos esquemas representativos, predomínio do lúdico e da fantasia, subjetivação excessiva.
 
- Conseqüência: não permite antecipação de transformações, desrealização do pensamento, resistência aos limites, dificuldade para resignar-se.
 
  • Hipoacomodação
- Modalidade: não  respeito  ao  ritmo, tempo da criança não obediência à necessidade de repetição de uma experiência, reduzido contato com o objeto.
 
- Conseqüência: déficit na representação simbólica, dificuldade na internalização das imagens, problemas na aquisição da linguagem, falta de estimulação, abandono.
 
  • Hiperacomodação
- Modalidade:  superestimação da imitação, reduzido  contato  com a  subjetividade,  falta  de iniciativa, obediência cega às normas, submissão, não dispõe de suas experiência anteriores.
 
-   Conseqüência:    superestimulação   da    imitação,   falta   de  iniciativa,      obediência acrítica às normas, submissão. 
 
A partir deste esquema sobre as modalidades de inteligência, o sujeito constrói sua não-aprendizagem, da seguinte forma:
 
  • Hipoassimilação/Hiperacomodação
 -  Alunos “bonzinhos”, mas não colocam significados; imitação estereotipada.
      -  Modalidade dominante na escola 
 
  • Hiperassimilação/Hipoacomodação
  -  Problemas de aprendizagem com estrutura psicótica ou de Sintoma
 
  • Hipoassimilação/Hipoacomodação
  -  Não reproduz, não fantasia,
  -  Inibição Cognitiva
 
Outro aspecto que o psicopedagogo deverá considerar: o processo ensino-aprendizagem é sempre um caminho de via dupla. As modalidades de aprendizagem que interferem neste processo dizem respeito não exclusivamente ao aprendente, mas também ao ensinante. Isso nos leva a refletir na nossa própria modalidade de aprendizagem, uma vez que ela poderá construir uma modalidade de ensinagem geradora de modalidades de aprendizagem patógenas.
 
 
REFERÊNCIAS
 
DOLLE, J.M. – Para Além de Freud e Piaget. Editora Vozes, Petrópolis, 1993.
Esther Pillar Grossi e Jussara Bordia, p. 59. Ed. Vozes, Petrópolis, 1996.
 
FERNÁNDEZ,  Alícia   –   A   Inteligência   Aprisionada,  tradução  de  Iara        Rodrigues,   Editora Artes Médicas,  Porto Alegre,  1990.
 
FERNÁNDEZ,  Alícia   - A Mulher Escondida na Professora,  Editora Artes         Médicas,  Porto Alegre,  1997.
 
FERNÁNDEZ,  Alícia A  Mulher  Escondida  na  Professora, Editora Artes Médicas, Porto Alegre, 1994.
 
FERNÁNDEZ,  Alícia.  A  Inteligência  AprisionadaEditora  Artes Médicas,   2ª   Edição, Porto Alegre, 1991
 
FERNÁNDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
 
FERNÁNDEZ, Alicia. O Saber em Jogo. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
 
Griz, MGS – Avaliação Psicopedagógica: Verificação de Talentos e Potencialidades. Capítulo 5 do livro Psicopedagogia: Diversas Faces, Múltiplos Olhares. Organizado por Maria Alice Leite Pinto. Editora Olho D’Agua, São Paulo, 2003
 
Griz, MGS - Cognição e Afetividade.  REVISTA    PSICOPEDAGOGIAda Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp . Volume 19 Nº 60, Página 25, São Paulo, 2002.
 
Griz, MGS - O Papel da Família nos Processos de Aprendizagem. REVISTA  CONSTRUÇÃO  PSICOPEDAGÓGICA  do Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo, Ano  XI,  Nº 8, Página 63,  2003.
 
MORIN, Edgar – Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Editora Cortez, tradução de Catarina Eleonora F. Da Silva e Jeanne Sawaya. Título original: Les sept savoirs nécessaire à l”éducation du futur. 2000, Brasília Distrito Federal
 
PAIN, Sara.  Subjetividade  e  Objetividade: Relações  entre Desejo  e  Conhecimento,  Centro de Estudos Educacionais Vera Cruz – CEVEC, São Paulo, 1996.
 
PAIN, Sara.   Diagnóstico  e  Tratamento  dos  Problema   de   Aprendizagem, Editora Artes Médicas, 2ª Edição, Porto Alegre, 1986.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

As contribuições da Lingua Brasileira De Sinais (LIBRAS) no contexto educacional: Modalidade Fundamental

A escola é muito importante na formação dos sujeitos em todos os seus aspectos. É um lugar de aprendizagem, de diferenças e de trocas de conhecimento, precisando, portanto atender a todos sem distinção, a, fim de não promover fracassos, discriminações e exclusões.
Diferente dos ouvintes, grande parte das crianças surdas entram na escola sem o conhecimento da língua, sendo que a maioria delas vem de famílias ouvintes que não sabem a língua de sinais, portanto, a necessidade que a LIBRAS seja, no contexto escolar, não só língua de instrução, mas, disciplina a ser ensinada, por isso, é imprescindível que o ensino de LIBRAS seja incluído nas séries iniciais do ensino fundamental para que o surdo possa adquirir uma língua e posteriormente receber informações escolares em língua de sinais.
O papel da língua de sinais na escola vai além da sua importância para o desenvolvimento do surdo, por isso, não basta somente a escola colocar duas línguas nas classes, é preciso que haja a adequação curricular necessária, apoio para os profissionais especializados para favorecer surdos e ouvintes, a fim de tornar o ensino apropriado a particularidade de cada aluno. Sobre isso Skliar menciona:
Segundo SKLIAR (2005, p. 27): “ Usufruir da língua de sinais é um direito do surdo e não uma concessão de alguns professores e escolas”.
A escola deve apresentar alternativas voltadas ás necessidades lingüísticas dos surdos, promovendo estratégias que permitam a incursão e o desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua.
As diferentes formas de proporcionar uma educação à criança de uma escola, dependem das decisões político-pedagógicas adotadas pela escola. Ao optar por essa educação, o estabelecimento de ensino assume uma política em que duas línguas passarão a ser exercitadas no espaço escolar.
Preparação dos profissionais
Deve-se pensar em uma preparação para os profissionais para incluir crianças com necessidades especiais no ensino fundamental, pois nesse processo, o educador irá estar diretamente interligado com esses alunos favorecendo o desenvolvimento das habilidades para a prática pedagógica, com o auxílio de um programa assistencial infantil, que atende essas crianças, que obrigatoriamente deve estar presente na escola.
Quando ocorre o preconceito da sociedade quanto ao deficiente auditivo, é preciso que haja educadores qualificados e ambiente adequado para o atendimento aos alunos amenizando essa problemática, dando importância à perspectiva de atender as exigências da sociedade que só alcançará seu objetivo quando todas as pessoas tiverem acesso à informação e conhecimento necessário para a formação de sua cidadania.
Em meio a discussões sobre os questionários aplicados a profissionais na escola Geraldo Caldani, releva que para o desempenho das atividades pedagógicas em relação às crianças com deficiência auditiva, devem receber assessoramento da equipe pedagógica e de intérpretes que atendem as necessidades dos alunos surdos inclusos no ensino regular.
A inclusão do deficiente auditivo deve ser integral, acima de tudo, digna de respeito e direito a educação com qualidade atendendo aos interesses individuais e nos grupos sociais.  Já a educação especial passa por uma transformação em termos da sua concepção e diretrizes legais. É preciso estabelecer um plano de ação político-pedagógico que envolva a inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais. Faz-se necessário lembrar que a Educação Especial delineia um processo de construção e compreensão de posicionamentos quanto às orientações e diretrizes atuais.
Com o processo de inclusão dos portadores de necessidades educativas especiais no ensino fundamental, devemos levar em consideração que as mudanças são freqüentes, principalmente quando consideramos que toda a nossa tradição histórica tem sido preconceituosa e discriminativa. Quanto a isso, os profissionais sabem que existe uma grande preocupação no rendimento escolar, por isso, o educador deve estar preparado para lidar com situações constrangedoras, pois terá contato com diferentes tipos de alunos.
Há ainda, uma grande preocupação quanto a participação dos pais na escola, pois são poucos os que são presente na educação escolar. Os mesmos, muitas vezes desconhecem a LIBRAS, pois utilizam gestos que são reproduzidos naturalmente.
No processo de inclusão no âmbito escolar, deverá ser feito um trabalho de conscientização que é um trabalho essencial para a construção de uma sociedade justa e igualitária, na qual as diferenças sejam consideradas e respeitadas.
As diferenças humanas
Os ouvintes são acometidos pela crença de que ser ouvinte é melhor do que ser surdo, pois, na ótica do ouvinte, ser surdo é o resultado da perda de uma habilidade disponível para a maioria dos seres humanos. No entanto, essa parece ser uma questão de mero ponto de vista. “Um órgão a mais ou a menos em nossa máquina teria feito de nós outra inteligência” (FAULSTICH, 2004 p.36 ).
Se não há limite entre a grandeza e a pequenez podemos concluir que ser surdo não é melhor nem pior de ser ouvinte, mas diferente. Esta é uma questão que merece ser amplamente discutida, pois, estão limitadas as considerações das pessoas com necessidades especiais.
Segundo Skliar (2005) explica que falar em Cultura Surda como um grupo de pessoas localizados no tempo e no espaço é fácil, mas refletir sobre o fato de que nessa comunidade surgem processos culturais específicos é uma visão rejeitada por muitos, sobre o argumento da concepção da cultura universal.
Quanto à Língua de sinais, cabe ressaltar a forma como os indivíduos são nela nomeados, atribuindo-se aos sujeitos características físicas, psicológicas, associadas ou não a comportamentos particulares, os mais variados, os quais personificam os indivíduos. É uma língua adquirida efetivamente no contato com seus falantes. Esse contato acontece com a participação da família, onde a cultura esta em plena transformação e ao mesmo tempo diversifica seus hábitos e costumes que refletem nessa cultura. Nesse sentido, é fundamental o contato da criança surda com os adultos surdos e outras crianças com as mesmas necessidades para que haja a interação lingüística favorável que possibilite um ambiente de interação, quando se trata de língua de sinais.
O processo de alfabetização de surdos tem duas enquetes a serem ressaltadas: o relato de estórias por parte da comunidade e a produção de literatura infantil em sinais (não sistemas de comunicação artificial, portuguesa sinalizado, ou qualquer outra coisa que não seja a Língua de Sinais Brasileira (LSB)). Recuperar a produção literária da comunidade surda é necessário para tornar produtivo o processo de alfabetização.
 “A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (Constituição da República Federativa do Brasil, III, Art. 205).
Desta forma, o papel do surdo adulto na educação se torna fundamental para o desenvolvimento da pessoa surda. É preciso produzir estórias utilizando-se configurações de mãos específicas, produzirem estórias em primeira pessoa sobre pessoas surdas, sobre pessoas ouvintes, produzir vídeo de produções literárias de adultos surdos.

A educação de surdos e a educação especial
A educação especial para surdos parece não ser o marco adequado para uma discussão significativa sobre a educação dos surdos. Mas, ela é o espaço habitual onde se produzem e se reproduzem táticas e estratégias de naturalização dos surdos em ouvintes, e o local onde a surdez é disfarçada.
A necessidade de construir um território mais significativo para a educação dos surdos nos conduz a um conjunto de inquietações acerca de como narramos aos outros, de como os outros se narram a si mesmos, e de como essas narrações são colocadas de um modo estático nas políticas e nas praticas pedagógicas. A tensão e a ruptura com a educação especial só podem ser entendidas como estratégias para deslocar representações e não no seu sentido linear, literal. O movimento de aproximação com outras linhas de estudo em educação também é uma provocação para o descentramento.
Reflexão sobre o fracasso educacional dos surdos
A falta de compreensão e de produção dos significados da língua oral e o analfabetismo na escola antiga, a mínima proporção dos surdos tinham acesso a estudos de ensino superior, pois estava escassa a qualificação profissional para o trabalho, e estes são motivos para várias justificações impróprias sobre o fracasso na educação dos surdos. Uma delas, está a culpabilizacao aos professores ouvintes por esse fracasso e a localização do fracasso nos processos dos métodos de ensino – o que esforça a necessidade de sistematizá-los ainda mais, de torná-los mais rigorosos e impiedosos com relação aos surdos. Nesses tipos de justificações, evita-se a denuncia do fracasso da escola, da educação e do compromisso da responsabilidade do Estado.
Os que fracassam em relação aos surdos são os direitos lingüísticos e de cidadania quanto, as teorias de aprendizagem que refletem as condições cognitivas dos surdos.O que se faz necessário quanto à presença do fracasso, é o surgimento de novas teorias e variadas perspectivas. Chegamos à conclusão que a educação dos surdos não fracassou, ela apenas conseguiu os resultados previstos em função dos mecanismos e das relações de poderes e de saberes atuais.Em relação a isso foram questionadas as formas de processo de ensino aprendizagem e quais são os processos e as metodologias utilizadas na Escola Municipal Geraldo Caldani.
Os professores têm o auxílio necessário da equipe pedagógica e freqüentam cursos de LIBRAS semanalmente, utilizando sempre o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola que é adequado para proporcionar uma metodologia diversificada e eficiente para que haja interação entre professores e alunos em sala de aula para se obter resultados significativos.
Também são usados recursos visuais diferenciados com o objetivo de proporcionar melhor entendimento dos conteúdos explanados no decorrer das aulas tanto no espaço como nos recursos usados em sala de aula na qual possui laboratório de informática com acesso a internet e vídeos diversificados adaptados em libras e coleção do dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da LÍNGUA de Sinais Brasileira.
Reflexão sobre as potencialidades educacionais dos surdos
A educação dos surdos pode muito bem ser definida como uma história de impossibilidades. A reflexão sobre o consenso das potencialidades educacionais dos surdos não deve ser apressadamente interpretada sobre o modo como os surdos podem ser educados e como uma conseqüência de objetivos pedagógicos a serem desenvolvidos em termos de uma preposição metodológica.Os Estudos Surdos em Educação podem ser pensados como um território de investigação educacional e de preposições políticas que, através de um conjunto de concepções lingüísticas definem uma particular aproximação com o conhecimento e com os discursos sobre a surdez e sobre o mundo dos surdos.
A escola de surdos e o trabalho
As escolas de surdos vêm atuando de forma direta no que se refere na formação de surdos trabalhadores. Essa formação atua diretamente no que se refere à na disciplina do sujeito para uma melhor adequação às necessidades do mundo do trabalho. O sentido de aprendizagem possibilita ao aluno surdouma atividade que evita que o aluno seja no futuro uma “carga” para a família.Fica evidenciado que os jovens alunos surdos vinham sendo disciplinados a uma rotina que atendia ao ritmo das antigas fábricas que surgiram na época.
O sentido de reabilitação pode ser facilmente encontrado em diferentes projetos direcionados às questões do trabalho nas escolas de surdos. É importante ressaltar que se a escola de surdos atende a criança e jovens que ainda não foram inseridos no mercado de trabalho, é equivocado falar em reabilitação, como se fosse necessário reparar algo ou alguém que já falhou. Essas escolhas de atividades profissionais são motivadas pela crença de muitos pais e educadores de que a informática é a atividade ideal para os surdos. Outros projetos privilegiam ofícios que não exigem escolaridade mais avançada, mas que possibilitam um trabalho mais individual, sem a necessidade de contato freqüente com o público.
O compromisso assumido pelas escolas em garantir ao seu aluno surdo uma formação para um emprego, comprovando a eficiência do processo educacional, leva as mesmas a se constituírem em agência de emprego. Alunos surdos e seus familiares vão até esses profissionais na certeza de que eles irão atender seus anseios por um emprego e pela possível independência financeira.
Segundo CARVALHO, (2004) argumenta que surdez e problema se conectam de forma muito imediata. As dificuldades ligadas à falta de emprego resultam em um difícil acesso a informação adequada e aos processos de tomada de decisão, fazendo com que os alunos surdos e familiares procurem na escola apoio e auxilio.
A visão da escola
A escola tem sido objeto para muitos estudos e projetos educativos e sociais que determina a participação de diferentes grupos culturais. Na Escola Geraldo Caldani, sempre ouve a preocupação com o perfil da escola, com o disciplinamento e com a educação de excluídos oriundos das classes populares e de grupos culturais, pois em todos os sentidos sempre houve preconceitos.
As diferenças existentes entre grupos culturais estão presentes na escola moderna, porém, não sabe como trabalhar e pensar as mesmas. A escola esta preparada para uniformizar os sujeitos que devem ser “livres”, educados e servis. Esta dificuldade em trabalhar com essas diferenças não se observa só na escola, mas em todas as instituições que se deparam com o crescimento material gerado pela ciência e tecnologia.
Segundo GÓES(1999) diz que a escola esta entre posições de direita e esquerda e que esta vem colaborando para diminuir as diferenças. Por um lado é vista como capaz de promover o uso da razão e da formação de alunos livres, e por outro, é vista como incompetente por não conseguir formar cidadãos e por estar produzindo divisões entre ricos e pobres. CARVALHO (2004) diz:
“A pesquisa educacional vem desenvolvendo, nas ultimas décadas, um imenso arsenal de teorias, interpretações, recomendações, prescrições, etc. que se ocupam com a crise educacional. Com isso essas teorias tentam descrever, analisar, compreender e até modificar a educação especial moderna. E, para isso, trazem o aporte da Psicologia, da Filosofia, da Sociologia, da Politicologia, etc.”
Pensar a escola possibilitará os profissionais estudar várias outra formas sociais - pedagógicas para que o pensamento da escola passe a ver o sujeito como um ser de produção de sentidos, valores e identidades. Precisamos questionar o papel que a escola desempenha, e principalmente, uniformizar sujeitos para a redução de suas vidas em “reproduzir” a realidade de outros.
Muitas são as diferenças existentes na escola, assim como, muitas são as formas como podemos vê-las e pensá-las, isto dependerá do interesse e posição de quem a estuda. As diferenças culturais ou na cultura devem ser vistas e pensadas como diferenças políticas que devem sobressair aos limites lingüísticos, de cor, raça e de gênero.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das variáveis observadas nesta experiência no estudo sobre o ensino de libras na educação fundamental pode-se OBSERVAR que a inclusão escolar e a educação dos alunos surdos, promovem algumas modificações que devem ocorrer anterior à sua presença na escola, como as modificações que ocorrem à medida que as especificidades são identificadas, bem como a capacitação dos profissionais que irão trabalhar diretamente com eles.
Desta maneira, a inclusão de alunos surdos na sala de aula do ensino comum é uma proposta não relacionada somente com as questões da surdez, mas com questões que envolvem uma diferença diversificada num sentido de que outros caminhos pedagógicos devem ser trilhados para que estes alunos possam vir a constituir-se como um sujeito surdo pertencente a uma sociedade cuja maioria é de ouvintes. Dentre estes ouvintes, outras diferenças também existem, pois vivemos em uma sociedade que também não reconhece as necessidades dos ouvintes, não tem um olhar para suas particularidades.
Esses aspectos crítico - pedagógicos que envolvem o ensino de libras para as séries iniciais sempre estarão sujeito a mudanças. Estas, não ocorrem de modo rápido e também não são de fácil elaboração, pois os conceitos sobre a educação e língua de sinais, necessitam ser reformulados e ao mesmo tempo esses novos conceitos que circulam no interior escolar, devem ser aceitos por todos na área da educação, sabendo que conflitarão com aqueles já existentes.
Há muito que se fazer ainda no que se diz respeito sobre a educação especial. As instituições de ensino precisam proporcionar mais recursos lingüísticos para os deficientes auditivos para que eles possam se desenvolver de forma autônoma, preparando - se para os desafios do cotidiano fazendo a diferença. Desta forma, será no cotidiano da inclusão escolar, através das experiências e reflexões das mesmas, que se estabelecerá no processo social, as maneiras para a inclusão e quais serão as propostas pedagógicas utilizadas para o ensino das crianças com necessidades educativas especiais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GÓES, Maria Cecília Rafael; LACERDA, Cristina Broglia Feitosa. Surdes, Processo Educativo e Subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000.
GÓES, Maria Cecília Rafael; Linguagem, Surdez e Educação. 2ª ed. Campinas, SP: autores associados, 1999. – coleção (educação). contemporânea)
SALLES, Heloisa Maria Moreira Lima; FAULSTICH, Enilde; CARVALHO, Orlene Lúcia; RAMOS, Ana Adelina Lopo. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos, vol. 1 - caminhos para a pratica pedagógica, Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, 2004.
QUADROS, Ronice Muller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira - Estudos Lingüísticos, 2004. Ed 1. Artmed Psipedagogi.
SALLES, Heloisa Maria Moreira Lima; FAULSTICH, Enilde; CARVALHO, Orlene Lúcia; RAMOS, Ana Adelina Lopo. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos, vol. 2 - caminhos para a pratica pedagógica, Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, 2004.
SKLIAR, Carlos; A Surdez, um olhar sobre as diferenças. 3ª edição; ed. Mediação – Porto Alegre – RS – 2005.
CAPOVILLA, Fernando Cezar; RAPHAEL, Walkiria Duarte; Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue Língua de Sinais Brasileira; vol. II – SP – 2006